Ensino EUA
A universidade de Harvard pode abrir falência?


por Gonçalo Venâncio
01.07. 2009


Fundo institucional da universidade perdeu oito mil milhões de euros. Summers, conselheiro de Obama, acusado de gastar milhões em Harvard

De Harvard saíram seis presidentes americanos, de John Adams a Barack Obama, passando por George W. Bush, e 75 prémios Nobel. Mas em Cambridge, Massachusetts, os líderes da mais prestigiada universidade do mundo parecem ter esquecido uma das lições elementares da Física de Isaac Newton: tudo o que sobe também desce.

Foi o que sucedeu com o fundo institucional da universidade norte-americana. Depois ter engordado anos a fio até atingir 26,2 mil milhões de euros (37 mil milhões de dólares), o fundo deverá ter levado uma machadada sem precedentes de oito mil milhões de euros no ano fiscal que agora termina. As previsões são da Moody's, agência de notação financeira. Ainda sobra muito dinheiro. Mas, como escreve a revista "Boston Magazine", estão reunidos muitos dos ingredientes que poderiam ter levado a universidade à falência.

A situação é de tal modo grave que Harvard está a cortar a direito nas despesas, parando a construção do seu campus ultramoderno em Allston e propondo a reforma antecipada a 10% do seu quadro de colaboradores. Tudo somado, a universidade tem de emagrecer ao ritmo de 500 milhões de dólares (353,7 milhões de euros) por ano, durante quatro anos.

Culpados?

É preciso recuar aos anos 90, quando Jack Meyer abandonou a Rockefeller Foundation para assumir a presidência da Harvard Management Company (HMC). Meyer, uma vedeta dos mercados, diversificou o portfolio de investimentos da HMC. Na carteira de activos passaram a estar produtos financeiros ligados às matérias-primas, ao imobiliário, aos hedge funds e às obrigações. Quando chegou a Cambridge, o fundo da universidade ficava-se por uns modestos 3,3 mil milhões de euros. Quinze anos depois, em 2005, o valor escalou para os 15,9 mil milhões, tendo crescido a um ritmo anual de 16%.

Harvard tinha tanto poder de fogo financeiro que o senador republicano Charles Grassley chegou a dizer que era uma obrigação moral da universidade gastar dinheiro. Uma sugestão que Lawrence Summers levou muito a sério.

Intelectual mediático - adora a imprensa e sempre que pode anda de limousine -, Summers foi presidente de Harvard entre 2001 e 2006. A universidade foi gerida à sua imagem: abraçou novos projectos de muitos milhões e aumentou consideravelmente a dotação orçamental da Faculty of Arts and Sciences (o mais poderoso lóbi de Harvard). Dinheiro nunca foi sinónimo de preocupação. Até 2007, data em que o poder muda de mãos na universidade e Drew Gilpin Faust é eleita presidente de Harvard.

Com ela chegou a crise financeira. E em novembro de 2008 começou a temer-se o pior. Num email à comunidade académica, Gilpin Faust lançava o alerta: "Não somos invulneráveis." Aqueles que, anos antes, eram tidos como grandes negócios viriam a revelar-se ruinosos.

A universidade viu-se obrigada a vender dois mil milhões de dólares em acções num mercado em agonia; e o acordo de financiamento da dívida assinado por Summers com o Goldman Sachs, anos antes, assumiu proporções inimagináveis. Harvard tenta agora não perder terreno para as suas competidoras (Princeton, MIT, Stanford e Yale), mas tem hoje de fazer aquilo que não estava habituada a fazer no passado: escolhas.


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Saiba quais são as universidades americanas mais prestigiadas
30.10.2009


Harvard já não é o que era. É esta a conclusão de o terceiro relatório do Global Language Monitor sobre o prestígio de 200 faculdades e universidades americanas. Os primeiros resultados estão a ser avançados na conta da empresa no Twitter. A start-up americana fundada em 2003 analisa o que é dito das instituições na imprensa global, internet, blogues e redes sociais.

A secular universidade fundada em Cambridge, Massachusetts, em 1636, perdeu este ano a primeira posição para a Universidade de Michigan, em Ann Arbor e aparece agora em terceiro lugar. O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) aparece no segundo lugar, naquilo que é considerado "um grande salto" entre as maiores universidades americanas. A Global Language Monitor revela uma quebra de 20% nas referências encontradas sobre Harvard nos media.

Segundo os responsáveis, a quebra na percepção de prestígio estará relacionada com o impacto da crise na instituição. Nos últimos meses, o investimento na universidade caiu 27,3%, para 26 mil milhões de dólares. A quebra económica foi a maior em quatro décadas e obrigou a escola a iniciar um período de lay-off para alguns funcionários e a interromper obras no campus.

"Às vezes há acontecimentos que têm um impacto no nome, e a nossa análise mostra que desde que Harvard perdeu tanto, aparece conotada com restruturação económica", disse à Reuters Paul Payack, director da empresa. Yale, a segunda universidade mais rica do país, teve uma quebra de 30% no último ano fiscal, que terminou a 30%. O novo ranking aponta também para uma quebra no prestígio - passou de 9ª a 11ª posição.

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