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PORTUGAL

O novo Oeste selvagem

“Porque estão desempregados, porque querem consumir ou simplesmente porque desejam aproveitar a alta dos preços, os portugueses estão a vender o que têm em casa, coisas que às vezes têm desde há várias gerações.” Assim relata a revista lisboeta Visão a atual mania nacional de vender ouro.



Atualmente a 34 euros o grama, o ouro triplicou de valor nos últimos cinco anos, crescendo 30% só em 2010 e fazendo proliferar o número de empresas no ramo. A Casa da Moeda confirma que foram feitos 709 novos pedidos, sobretudo para venda de ouro a retalho, em 2010, 150% acima de 2008.

Entretanto, multiplicam-se as queixas de que o mercado do ouro é um novo Oeste selvagem, com pouca legislação e muitas fugas a impostos. Os desempregados e as pessoas pressionadas pela falência económica do país são os mais explorados, aponta a revista.

Muitos estão a vender a herança da família por quantias insignificantes, a 18 euros o grama. “Isto só é comparável ao crescimento do setor imobiliário de 1995 a 2002, quando era mais rentável do que o tráfico de droga", graceja um funcionário da ASAE, um departamento da polícia nacional.

www.presseurop.eu/pt

LIVRO

O amor, o sexo e o casamento no tempo de Salazar

Isabel Freire ouviu as histórias secretas de 12 homens e mulheres que hoje têm entre 70 e 90 anos. Os relatos saem esta semana em livro

por Rosa Ramos
23.11. 2010

Em 1959, a revista "Crónica Feminina" anuncia às "queridas leitoras" a primeira fotonovela portuguesa. Fernando, o protagonista, é um rapaz solteiro, atraente e rico, mas inconstante no amor. Por isso é obrigado pelo pai a casar no espaço de um mês - caso contrário, será deserdado. Para encontrar "uma mulher apropriada" e "casta", Fernando põe um anúncio no jornal - prática comum na época. Nas edições seguintes, as leitoras assistem ao desfilar das várias candidatas, que vão sendo chumbadas pelo jovem rico.
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Uma "boémia" que gosta de rock and roll. Uma corista de 28 anos com um gosto particular por aventuras. Uma costureira pobre que anseia por um marido rico. Fernando acaba por escolher a secretária do pai, uma rapariga exemplar aos olhos da época: 21 anos, beleza "sóbria", "sem pinturas", com "personalidade e cultura".

Pode não passar de uma fotonovela, mas aqui a ficção serve de exemplo do que era a moral e o mundo dos afectos e da sexualidade do Portugal da década 50, que a jornalista e escritora Isabel Freire retratou em livro. "Amor e Sexo no Tempo de Salazar"(ed. Esfera dos Livros), lançado esta semana, é uma viagem ao tempo em que o beijo era o mais perigoso dos delitos e as infidelidades corriam o risco de ser expostas nos sermões das missas. A novela da vida real é conduzida pelos relatos secretos de 12 homens e mulheres que hoje têm entre 70 e 90 anos, apimentados com documentos, revistas e jornais da época.
A mulher
Nos "dourados" anos 50 - a década em que se estreia a televisão portuguesa, em que o rock and roll ganha expressão e em que estrelas como Marilyn Monroe ou James Dean chegam a Hollywood - cabia ao homem governar a família e à mulher ser simultaneamente esposa, mãe e fada do lar. É a mesma época em que nenhum homem de boa moral ousaria casar com uma "galdéria" ou fazer com a esposa o que fazia fora de casa com outra mulher.
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Mais de 80% das mulheres casadas, recorda Isabel Freire, não tinham orgasmos. "A mulher casada estava disponível para o prazer do marido, ficava na posição de missionário, provavelmente ao sábado à noite, porque domingo era dia de banho e de missa", explica, no livro, a professora universitária Cecília Barreira. As boas meninas ficavam em casa a cozinhar, a limpar, a bordar, a dar ordens às criadas, a tratar das crianças ou a tomar conta dos idosos.
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Eram guardadas intactas, "fechadas em capelinhas" até ao dia do casamento, como recorda António, hoje com 83 anos. "No dia do matrimónio, as noivas parecia que... iam magoadas! Não sei explicar... era assim! Agora não. Vai tudo contente! Vai tudo a rir-se! Mas no meu tempo a noiva era uma coisa séria", acrescenta Esperança, 90 anos. Em todos os momentos, dentro e fora de casa, a rapariga devia esforçar-se por manter uma imagem intocável. "Lavar--se da cabeça aos pés, evitar chegar atrasada", recorda Isabel Freire. O boletim de instrução para os dirigentes da Mocidade Portuguesa desaconselhava igualmente as "modas espalhafatosas" e os "penteados complicados".

O sexo
Mas se o puritanismo e a vigilância dos costumes eram evidentes, havia excepções. "As mulheres não se masturbavam? Ai masturbavam, masturbavam! Condenava a Igreja, mas não condenava eu", admite Sofia, hoje com 70 anos. Em segredo, os rapazes juntavam-se em masturbações colectivas na escola. "Acontecia nas casas de banho ou numa mata que havia frente à escola e para onde nos escapulíamos no intervalo", recorda Manuel, 72 anos. Os homens, revela Isabel Freire, abriam buracos circulares na terra para se masturbarem, convencidos de que isso aumentaria o volume do pénis.
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As mulheres - que não deveriam admitir que gostavam de sentir prazer, sob pena de serem consideradas perversas - desdobravam- -se muitas vezes em abortos ou experimentavam alternativas aos contraceptivos - todos proibidos pelo Vaticano, à excepção da abstinência sexual no período da ovulação da mulher. "Umas velazinhas de manteiga de cacau que se enfiavam na vagina [...] quando vinha o esperma, enrolava-se naquilo [...] Também usávamos o preservativo, mas rebentava porque a gente não sabia usar aquilo", conta Mariazinha, 84 anos.
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Nessa mesma época, as criadas engravidavam dos patrões e eram despachadas, às escondidas, para a aldeia. "Trabalhava uma criada muito jeitosinha. Nunca lhe liguei nenhuma, mas um dia, ao fim-de-semana, enfiou-se na cama comigo e mantivemos uma relação erótica um certo tempo", confessa Manuel.

A revolução
Em 1961, os sectores mais conservadores são abalados com a publicação da "Carta a uma jovem portuguesa", assinada por um estudante anónimo. "Nos anos 60 começa a existir alguma abertura, as mulheres sentem que há coisas que podem não ser como lhes foi contado", explica Isabel Freire. António, um dos entrevistados, lembra-se de Simone de Oliveira vencer o Festival da Canção, em 69, com a "Desfolhada Portuguesa". "Quem faz um filho fá-lo com gosto? Isso era uma coisa incrível de se dizer. Afirmá-lo era revolucionário [...] Com as mulheres, a revolução aconteceu de outro modo: começaram a dar liberdade às próprias filhas. Começaram a sentir que tinham direitos", resume.

Dona de casa atenta ao marido
ou perversa e "moderna"
eram os "dois tipos de mulher" nos anos 50

Lello. Os segredos da terceira
melhor livraria do mundo

por Margarida Silva
19.11. 2010

Ontem esteve nas bocas do mundo por ter ficado em terceiro lugar numa lista do "Lonely Planet", mas isso não alterou o dia do seu dono. Antero Braga fez-nos uma visita guiada à Lello
A Lello não é uma livraria qualquer. É "a" livraria do Porto. E do mundo. Tanto é, que foi considerada a terceira melhor do mundo pelo popular guia de viagens "Lonely Planet''s Best in Travel 2011".
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Quinze anos depois da mudança de gerência, a livraria continua a aproveitar a estrutura arquitectónica que atrai milhares de visitantes e reforça uma reputação que mantém há mais de cem anos.

Esta não é a primeira vez que a Lello é destacada por uma publicação internacional. Há dois anos, o jornal britânico "The Guardian" já a tinha homenageado com o terceiro lugar no ranking de melhores livrarias do mundo.

Antero Braga, proprietário e actualmente o homem forte por detrás do nome Lello, explica que a receita para o sucesso passa por encontrar o equilíbrio interior entre o seu papel de amante de cultura e o outro, mais austero, o de gestor.

Directo ao assunto, Antero Braga explica que esta não é a sua livraria ideal, uma vez que não abrange todas as áreas temáticas que desejava, mas o lado de gestor diz-lhe que só fazendo concessões é possível tornar a livraria num negócio viável. "Se não o fizeres estás condenado, quase como acontece com o país", confessa.

Há 41 anos a trabalhar em livros, Antero não esconde o orgulho que sente com o seu espaço, a sua profissão e com a reputação de qualidade da sua livraria. Foi há 15 anos que assumiu a gerência da Lello, e quando a encontrou estava longe de ser o marco que é agora. "A Lello enquanto editora foi muito mais conhecida do que propriamente enquanto livraria", explica.

Foi o seu percurso de gestor na Bertrand que o ajudou a recuperar o espaço. "Fui o gerente mais novo da Bertrand, o director comercial mais novo da Bertrand, o administrador mais novo da Bertrand e sou cá do Porto", contou.

A Lello é, aliás, um espaço tipicamente portuense, onde é cultivada e mostrada a essência da cidade. A máxima deste espaço passa por criar uma ligação "intensa de amizade"com os seus clientes. Antero Braga crê que é aqui que reside o espírito da Invicta. "No Porto é mais difícil por vezes penetrar no meio, mas depois tem-se amigos para a vida", diz.

O facto de ter preservado o ambiente íntimo e personalizado fez com que a livraria se tornasse um dos marcos de atracção da cidade, quer para o comum turista quer para figuras ilustres. Ao longo da sua vasta história, já por lá passaram nomes como Afonso Costa, Cavaco Silva (escolheu a Lello para lançar a sua autobiografia), Mário Vargas Llosa (ainda antes de receber o prémio Nobel), Alain Juppé, antigo primeiro-ministro francês, ou Marcelo Caetano, o último homem-forte do Estado Novo.

"Cada um tem o seu feitio, e as pessoas gosta de ter um interlocutor, alguém que os aconselha", diz Antero Braga. Na Lello têm o tratamento personalizado que está a desaparecer do comércio contemporâneo. O gestor da livraria conta que várias personalidades, como Diogo Freitas do Amaral, usam o seu gabinete, onde guarda algumas raridades.

Antero Braga orgulha-se das amizades que cultivou ao longo da sua carreira. Conta com carinho o encontro que teve com José Saramago, em que lhe confessou que o seu livro preferido do autor era o "Levantado do Chão" e não o "Memorial do Convento". Ao que o Nobel português respondeu: "Também é o meu."

As distinções que a Lello vai acumulando fazem dela um ícone da cidade. Se cada visitante que se extasia com a sublime escadaria do espaço comprasse um livro, em termos comerciais era um êxito fenomenal. Assim, é uma livraria que resiste com o passar dos tempos e que o mundo reconhece. Mais do que os portugueses, diga-se.
www.ionline.com/ /Semanário Grande Porto
Acordo Ortográfico em Portugal

Vocabulário oficial será escolhido nas próximas semanas

por Agência Lusa, com Andre Patrocínio
07.06.2010

A ministra da Cultura afirmou hoje que nas próximas semanas será decidido qual o vocabulário da Língua Portuguesa a utilizar oficialmente pelo Estado com as novas regras do acordo ortográfico.

"Há de facto no terreno vários vocabulários com respetivos conversores e é preciso pôr alguma ordem e tomarmos uma decisão sobre qual é o vocabulário que será normativo", afirmou Gabriela Canavilhas aos jornalistas no final da apresentação do conversor de ortografia Lince.
Segundo a ministra da Cultura, a decisão sobre o vocabulário a escolher caberá ao Conselho de Ministros.

Só depois será decidido o faseamento da aplicação nos vários organismos do Governo, sendo que o prazo oficial é de seis anos, até maio de 2015, contando a partir da ratificação do acordo.

A ministra falava no final da apresentação do conversor de ortografia Lince, desenvolvido pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) e que custou 60 mil euros, pagos através do Fundo da Língua Portuguesa.

Este conversor é um programa informático gratuito de livre utilização e que pode ser utilizado em qualquer sistema operativo e descarregado através do site www.portaldalinguaportuguesa.org.

Na demonstração hoje feita em Lisboa, quatro romances de José Eduardo Agualusa foram convertidos em simultâneo de acordo com as novas regras do acordo ortográfico em escassos segundos.

Gabriela Canavilhas alertou que o Lince não é "para já" a versão oficial do governo quanto às novas regras do acordo ortográfico, precisamente porque a decisão ainda não está tomada, mas permite ao cidadão comum familiarizar-se com a ferramenta e as novas regras.

Só depois de tomada a decisão em Conselho de Ministros é que, por exemplo, os manuais escolares deverão ser alterados de acordo com as novas regras ortográficas.

Ainda que haja uma dispersão de vocabulários, Gabriela Canavilhas referiu que as diferenças entre todos são mínimas e os ajustes que serão feitos não causarão "grandes dramas" para os portugueses.

Além do conversor e do vocabulário criado pelo ILTEC, a Porto Editora lançou também um vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa e a Academia de Ciências está a preparar também um Vocabulário da Língua Portuguesa.

O acordo ortográfico entrou em vigor em janeiro deste ano.
Há já vários órgãos de comunicação social a aplicar as novas regras, entre os quais o Record e a agência Lusa.

O grupo Impresa (televisão SIC e semanário Expresso, entre outros) começa a aplicar a partir o novo acordo de terça feira nas suas publicações, na imprensa digital e nas áreas administrativas do Grupo.

Esta notícia foi escrita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
www.ionline.pt/

Música
Cuca Roseta


Do rock ao fado com paragem no supermercado


por André Rito

10.07.2010


Fez parte dos Toranja, gravou um anúncio que virou febre nacional e é a nova estrela do fado

Na casa da família de Cuca Roseta fado foi coisa que nunca vingou. O pai ouvia apenas durante a universidade, a mãe não gostava e ela achava que era "música de velhinhas desafinadas". Até ao dia em que decidiu participar num concurso de fadistas. "Por piada", recorda.

A brincadeira acabou por lhe correr bem: abandonou os Toranja, banda que ajudou a fundar com Tiago Bettencourt, e começou a actuar nas casas de fado da capital. Há três anos, o produtor argentino Gustavo Santaolalla viu-a cantar e convidou-a para gravar um disco. Simples.

"Nem sequer era a minha noite. Por sorte, tinha ido substituir uma colega, quando apareceu o Gustavo. Surgiu do nada, chegou ao pé de mim e disse que queria gravar um disco comigo. Não fazia a mínima ideia de quem ele era." Nas mesas o burburinho rapidamente passou a falatório: "'Não sabes quem é? É o Santaolalla.' Eu ficava na mesma. Só depois percebi que era um produtor argentino, com bandas sonoras premiadas e uma carreira de sucesso."

Depois dessa noite a vida de Cuca Roseta - que garante nunca ter pensado em fazer carreira - não voltou a ser a mesma: além das casas de fado, começou a actuar no estrangeiro e abandonou completamente a ideia de ser psicóloga. "Disse-me para esquecer o trabalho, queria que me concentrasse apenas no fado e numa carreira internacional." O disco, com cinco fados tradicionais e outros tantos originais, foi gravado em Portugal e conta com algumas letras de Cuca. "Sempre gostei de escrever prosa. Descobri a poesia com o fado."

Janeiro a janeiro
Cuca Roseta começou a cantar no coro da igreja dos Salesianos, em São João do Estoril, onde foi colega do líder dos Toranja. Fez segundas vozes no primeiro disco da banda, "Esquissos", passou pelo rock, e ouviu muita "música de gajas". "Michael Bublé, por exemplo. Era o que vinha agora a ouvir no carro", confessa.

No ano passado, a fadista de 27 anos trocou novamente as voltas à carreira, depois de uma amiga lhe ligar para cantar num anúncio publicitário a um supermercado. "Foi engraçado porque era um anúncio normalíssimo que se tornou um fenómeno. Pensei que fosse uma coisa mais discreta. Hoje não consigo ouvir, mudo de canal sempre que passa na televisão."

Actualmente, Cuca canta três vezes por semana no Clube de Fado, em Lisboa. "É muito frequentado por estrangeiros, o que não deixa de ser interessante já que a maioria não compreende. Costumam dizer-me que não percebem nada do que digo, mas que sentem a música. É isso que torna o fado especial."
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