Itália

'Ndrangheta: Polícia italiana detém mais 67 suspeitos

por Margarida Videira da Costa
22.07.2010

foto - chefões do século passado

A operação Santa Tecla resultou ainda na apreensão de bens no valor de 250 milhões

A operação estende-se por várias zonas do país onde o grupo mafioso calabrês 'Ndrangheta opera. As detenções de ontem foram o resultado de acções nas regiões da Calábria, de Roma, Foggia, Bolonha, Bréscia e Milão, sob as ordens da direcção antimáfia de Catanzaro (Calábria).

As autoridades alegam que o clã Corigliano, considerado um dos mais importantes, foi completamente "aniquilado". Entre os detidos estão empresários e familiares de políticos, entre os quais Mario e Franco Straface, irmãos da presidente da junta de Corigliano, Pasqualina Straface (do PDL - partido de Berlusconi), sob acusação de extorsão ligada à construção de um complexo turístico.

Os 67 detidos vão ser formalmente acusadas de associação mafiosa, extorsão e tráfico de droga - a cocaína é uma das principais fontes de rendimento da 'Ndrangheta.

Os investigadores italianos calculam que 80% da cocaína a circular na Europa passe pelo porto de Gioia Tauro, na Calábria, que está dominado pela máfia. Entre os bens apreendidos, no valor total de cerca de 250 milhões de euros, estão 69 apartamentos e vilas, 68 terrenos e 55 veículos. Foram ainda encerradas sociedades ilegais ligadas à construção, à concessão de licenças para obras públicas e à distribuição de produtos de cartão e plástico.

A operação decorre uma semana depois de a brigada antimáfia ter prendido o número um da 'Ndrangheta, Domenico Oppedisano, de 80 anos, juntamente com outras 300 pessoas ligadas ao grupo, numa megaoperação histórica. A agência italiana Ansa avança que as investigações foram realizadas com a ajuda de antigos colaboradores da máfia calabresa que deixaram a organização.

A 'Ndrangheta é considerada pela Direzione Investigativa Antimafia como uma das organizações criminosas mais poderosas do mundo, mesmo à frente da famosa Cosa Nostre da Sicília ou da Camorra de Nápoles. O ministro da Justiça, Angelino Alfano, expressou "uma grande satisfação" pelo "enésimo sucesso do Estado, que, com acções coordenadas e de alto nível profissional, está em condições de conseguir extraordinários resultados, que desestabilizem o fenómeno criminal, enfraquecendo o seu sistema económico e isolando as ramificações estratificadas no território".

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Histórico café parisiense confiscado ao clã mafioso 'Ndrangheta
Publicado em 22 de Julho de 2009

A polícia de Roma confiscou hoje propriedades num valor superior a 200 milhões de euros pertencentes à 'Ndrangheta, a máfia da região italiana de Calabria, incluindo o histórico café de Paris "La Dolce Vita", inspirado no famoso filme de Federico Fellini.

Foram confiscados cafés, restaurantes, oficianas de automóveis e diferentes veículos de supostos membros da organização.

Nos últimos anos, aquele clã calabrês superou a Cosa Nostra, a máfia siciliana, e converteu-se no grupo de crime organizado mais poderoso de Itália. Domina o comércio de droga na Europa, incluindo o tráfico de cocaína que parte da América do Sul.

Em 2005, o café parisiense "La Dolce Vita" foi vendido por 250 mil euros a um barbeiro da Calabria que, dizem fontes policiais, é um membro suspeito do clã.
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Itália ataca a máfia calabresa

Operação em grande escala detém patriarca do crime

por Renato Lopes
14.07. 2010

Domenico Oppedisano foi detido juntamente com 300 mafiosos. A 'Ndrangheta’ é a mais violenta máfia italiana

Domenico Oppedisano, de 80 anos, foi detido ontem numa pequena aldeia costeira em Calábria durante uma mega-operação levada a cabo pelas autoridades italianas. A operação The Crime, ainda em curso, está a tentar cumprir entre 200 e 300 ordens de captura emitidas contra mafiosos por toda a Itália. Entre as acusações estão crimes de assassinato, lavagem de dinheiro, chantagem, e posse e tráfico de armas e drogas.

Entre os mafiosos detidos estava Oppedisano, que a polícia acredita ser o chefe da 'Ndrangheta. O homem de 80 anos terá sido nomeado para o cargo de "capocrimine, um chefe criminal, em agosto de 2009, depois de um acordo alcançado pelos clãs calabreses, durante um casamento dos filhos dos chefes mafiosos. A 'Ndrangheta é considerada a maior e mais violenta máfia italiana, ultrapassando as rivais Camorra (região de Nápoles), a Cosa Nostra (Sicília) e a de menor dimensão, Sacra Corona Unita (Apúlia, sudeste de Itália).

A operação The Crime surge depois de uma série de homicídos de uma guerra entre máfias causada pela tentativa falhada do ramo norte da 'Ndrangheta - o braço económico da organização - se separar do centro de operações original, no sul do país, e tentar obter o poder total sobre a organização. Esta é a maior operação em grande escala no país desde 95, contando com três mil agentes italianos, da polícia italiana e dos Carabinieri, um corpo militarizado.

Além das detenções, os investigadores desvendaram inúmeras actividades ilícitas da organização criminal na região Sul da Calábria e obtiveram algumas informações que descrevem como a organização operava e como geria os seus negócios. Estas informações serão úteis para compreender e identificar o modus operandi das restantes famílias em Itália. Foram também confiscados bens no valor de 330 milhões de euros e estima-se que o volume de negócios da organização criminosa terá chegado ao patamar dos 44 milhões de euros.

Outras informações apontam para infiltrações no norte do país, mais concretamente para a região de Lombardia, onde, para além dos contactos internacionais, se considera que a 'Ndrangheta estivesse a estabelecer contactos económicos. Um deles foi o empresário detido em Milão, Gioacchino Campolo - conhecido como o rei do póquer -, que foi identificado como sendo um dos gerentes da organização.

A maior parte dos contactos terá sido também principalmente no sector da saúde, como comprova a detenção de um oficial de saúde pública da cidade de Pavia. Foram ainda capturados outros 160 indivíduos, alegadamente com ligações à 'Ndrangheta.

Numa declaração à imprensa, o primeiro-ministro italiano, Roberto Maroni, elogiou a operação: "É certamente a operação mais importante contra a 'Ndrangheta nos últimos anos. É um tiro no coração do sistema criminoso sob o ponto de vista económico e logístico", disse.
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