Facebook já tem mais de 500 milhões de usuários

por Andrea Clementi
28.07.2010

A rede social Facebook acaba de superar 500 milhões de usuários, cerca de 7% da população mundial. Mesmo se na Suíça é cada vez mais difícil resistir à plataforma popular, muita gente ainda consegue ficar fora dela.

Já parece um continente. A soma dos usuários do Facebook equivale às populações dos Estados Unidos, do Japão e da Alemanha, reunidas.
É um exército que desde 2004 se mantém em contato através do portal criando pelo estudante norte-americano Mark Zuckerberg, um dos mais jovens miliardários no mundo.

Ao anunciar o recorde histórico, seu fundador recordou-se da ideia – vagamente utópica – que depois se tornaria a formidável máquina de ganhar dinheiro: "Criar um mundo mais aberto e mas conectado, no qual seria possível ficar sempre em contato com as pessoas que gostamos."

Sempre mais
Até quando Facebook continuará a crescer? "Ninguém pode responder com certeza a essa pergunta, mesmo se esse fenômeno é anômalo comparado às outras redes sociais, que tinham um pico de inscrições e depois caiam, em média, dois anos depois", explica Paulo Attivissimo, jornalista especializado em internet e autor de um popular blog.

Facebook, ao contrário, continua a crescer há seis anos. "Ele provavelmente atingiu uma tal massa crítica que é difícil não se inscrever no portal". Essa é uma tendência constatada pela swissinfo.ch: presente no Facebook desde meados de 2009, ela já tem 43.756 seguidores. Entre os fatores de sucesso de Facebook está a facilidade de utilizá-lo, que atrai inclusive os menos jovens. "Pelo menos em aparência, o portal é efetivamente simples a utilizar. Rapidamente pode-se criar um perfil e dividir conteúdos – por exemplo fotos – com outros usuários", acrescenta Attivissimo.

Linha direta
Porém, Facebook não é apenas um instrumento de contato e troca de conteúdo. Muitos dos usuários o utilizam para promover seus produtos e manter um contato constante com a clientela. Principalmente nos países de língua inglesa, Facebook é um canal de comunicação muito utilizado, pois consegue dar visibilidade e diálogo direto com os que se interessam por determinado produto ou um tema particular.

Como exemplo, a BBC (rede pública britânica de comunicação) e muitas outras criaram páginas no Facebook.Até na Suíça, ministérios e empresas estatais como Postfinance e Swisscom desfrutam das possibilidades da rede social. O objetivo é atrair um público mais jovem e majoritariamente refratário aos meios tradicionais de publicidade.

Mas na Suíça, Facebook ainda é utilizado sobretudo pelos jovens. Uma sondagem recente constatou que metade dos usuários da rede estão na faixa de 18 a 35 anos; para a faixa dos 35 anos 44 anos, o percentual cai para 16% e aos 55 anos é de apenas 3%.

Aprender a utilizar
No entanto, é preciso considerar o outro lado da medalha, como os riscos de abuso na utilização dos dados pessoais. Na Suíça, o responsável pela proteção de dados já advertiu mais de uma vez a população: os usuários das redes sociais não têm como controlar a utilização de seus dados e não são raras as pessoas que foram confrontadas a situações indesejáveis.

"Publicar dados pessoas é delicado porque é muito difícil saber quem terá acesso ou não. A consequência é que, às vezes, são divulgadas informações que deveriam ser confidenciais", adverte Attivissimo.

Apesar das limitações tecnicas, "muitas pessoas não pensam que, por exemplo, dados relativos à vida profissional publicados no Facebook podem ter consequências negativas. No final das contas, é uma questão de responsabilidade pessoal e de familiarização com um novo meio de comunicação.

"Facebook foi sujeito a críticas por causa de alguns grupos que suscitaram indignação como o que propunha usar crianças como escudo o que se alegava pela morte de soldados em Kabul.

Segundo Attivissimo, "muitas pessoas são movidas pelo desejo de serem conhecidas, de emergir do grande universo do Facebook. Mesmo para isso é necessário utilizar corretamente o novo instrumento e respeitar regras."

Não é indispensável
Seja por razões de segurança ou por outro motivo, Facebook não atrai a todos. Sara Contini, 35 anos, trabalha no setor de comunicações e não está no Facebook: "Ainda não encontrei um motivo válido para me inscrever. Acompanhei o desenvolvimento da internet e desde o início tenho e-email, mas não vejo utilidade no Facebook."

Ela também discorda do discurso pró-Facebook: "Me parece que é mesmo discurso dos celulares de última geração, com um montão de recursos, mas poucas funções realmente úteis. No final, você acaba sendo usado pelo instrumento ao invés de utilizá-lo", afirma Sara Contini.

Mas como trabalhar em comunicação ignorando um istrumento tão popular? "Não tem problema, posso encontrar as informações que procuro nos meios que já existem: blog, fórum, sítios etc.", responde.

Outra razão para não aderir ao Facebook é a falta de tempo fora do horário de trabalho. "Um dia tem 24 horas. Se dedico apenas uma a discutir com pessoas que estão a 10 mil km de distância, perco um tempo importante para mim que é estar com minha família. Não posso ficar sem internet, mas sem Facebook posso. Existe vida sem computador e seria pecado não ter tempo de vive-la.”

Adaptação - Claudinê Gonçalves
http://www.swissinfo.ch/
LEI TALIBÃ
31.07.2010

A revista Time traz na capa desta semana a fotografia de Aisha, uma jovem afegã, de 18 anos, a quem foram cortadas as orelhas e o nariz por não respeitar as regras talibãs e ter fugido da casa da família do marido.

Aisha conta que era constantemente espancada e tratada como uma escrava. Mesmo assim, a história não foi o suficiente para convencer um comandante talibã e enquanto o cunhado de Aisha a agarrava, o seu marido cortou-lhe as orelhas e o nariz.

A fotógrafa da Time, Jodie Bieber, quis fotografá-la mostrando a beleza da mulher. “És mesmo uma mulher bonita. Não compreendo, nem imagino o que possas sentir quando tens o nariz e as orelhas cortadas, mas o que posso fazer, e mostrar-te, é a tua beleza nestas fotografias”, disse a Aisha.

O trabalho mostra a situação das mulheres naquele país e defende a permanência das tropas americanas no local. No editorial da revista americana lê-se que a reportagem pretende também: “convencer os americanos sobre o que os EUA e aliados deveriam fazer no país”.

Hoje em dia Aisha está escondida e protegida por guardas. A organização não governamental “Women for Afghan Women” (Mulheres pelas mulheres afegãs) ajuda-a financeiramente. Uma organização humanitária da Califórnia quer levá-la para os EUA para que possa ser submetida a uma cirurgia de reconstrução da face.
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AFEGANISTÃO - UM ENIGMA E QUATRO HIPÓTESES


Por José Luis Fiori
Outras Palavras *
30.07.2010

“Whenever western leaders ask themselves the question, why are we in Afghanistan, they come up with essentially the same reply: “to prevent Afghanistan becoming a failed state and haven for terrorists”. Yet there is very little evidence that Afghanistan is coming stable. On the contrary, the fighting is intensifying, casualities are mounting and the Taliban are becoming more confident”
Gideon Rachman, Financial Times, 26 de junho de 2010


A superioridade numérica e tecnológica das forças americanas e da OTAN, com relação aos guerrilheiros talibãs do Afeganistão, é abismal. No entanto, a situação estratégica dos EUA e dos seus aliados, depois de nove anos de guerra, vem piorando a cada dia. Em apenas um mês, o presidente Obama foi obrigado a demitir, por insubordinação, o famoso general Stanley McChystal, que ele havia nomeado, e que era o símbolo da “nova” estratégia de guerra do seu governo.

E agora enfrenta um dos mais graves casos de vazamento de informação da história militar americana, com detalhes sanguinários sobre ação das tropas, e acusações de que o Paquistão – seu principal aliado – é quem prepara e sustenta os guerrilheiros talibãs.

Depois do envio de mais 30 mil soldados americanos, em 2010, a situação militar dos aliados não melhorou; os ataques talibãs são cada vez mais numerosos e ousados; e o numero de mortos é cada vez maior. Por outro lado, o apoio da opinião publica americana e mundial é cada vez menor, e alguns dos principais aliados dos EUA, como a Holanda e o Canadá, já anunciaram a retirada de suas tropas, com própria Grã Bretanha sinalizando na mesma direção.

Faz algum tempo, o general americano, Dan McNeil, antigo comandante aliado, declarou à revista alemã Der Spiegel que seriam necessários 400 mil soldados para ganhar a guerra, e talvez por isto, quase ninguém mais acredite na possibilidade de uma vitória definitiva. Por outro lado, o governo do presidente Hamid Karzai está cada vez mais fraco e corrompido pelo dinheiro da droga e da ajuda americana, a sociedade afegã está dividida entre seus “senhores da guerra” e o atual Estado afegão só se sustenta com a presença das tropas estrangeiras.

Por fim, a luta contra as redes terroristas e al-Qaeda de Bin Laden também vai mal, e está sendo travada no lugar errado. Hoje está claro que os talibãs não participaram dos atentados de 11 de setembro, nos EUA, e estão cada vez mais distantes da al-Qaeda e das redes terrorista cuja liderança e sustentação está sobretudo, na Somália, no Yemen e no Paquistão.

E quase todos os estrategistas consideram que seria mais eficaz a retirada das tropas e o rastreamento e controle a distância das redes terroristas que ainda existam no território talibã. Resumindo: a possibilidade de vitória militar é infinitesimal; os talibãs não defendem ataques terroristas contra os EUA e não dispõem de armas de destruição de massa; e não existem interesses econômicos estratégicos no território afegão.

Por isto, a guerra se transformou numa incógnita, para os analistas políticos e militares.
Do nosso ponto de vista, entretanto, a explicação da guerra e qualquer prospecção sobre o seu futuro requerem uma teoria e uma análise geopolítica de longo prazo, sobre a dinâmica das grandes potências que lideram ou comandam o sistema mundial, desde sua origem na Europa, nos séculos XV e XVI. Em síntese:

1. nesse sistema mundial “europeu”, nunca houve nem haverá “paz perpétua”, porque se trata de um sistema que precisa da preparação para guerra e das próprias guerras para se ordenar e expandir;

2. nesse sistema, suas “grandes potencias” sempre estiveram envolvidas numa espécie de guerra permanente. E no caso da Inglaterra e dos EUA, eles começaram – em média – uma nova guerra a cada três anos, desde o início da sua expansão mundial;

3. além disto, este mesmo sistema sempre teve um “foco bélico”, uma espécie de “buraco negro”, que se desloca no espaço e no tempo e que exerce uma força destrutiva e gravitacional sobre todo o sistema, mantendo-o junto e hierarquizado. Depois da Segunda Guerra Mundial, este centro gravitacional saiu da própria Europa e se deslocou na direção dos ponteiros do relógio: para o nordeste e sudeste asiático, com as guerras da Coréia e do Vietnã, entre 1951 e 1975; e depois, para a Ásia Central, com as Guerras entre o Irã e o Iraque, e contra a invasão soviética do Afeganistão, durante a década de 80; com a Guerra do Golfo, no início dos anos 90; e com as Guerras do Iraque e do Afeganistão, nesta primeira década do século XXI.

4. deste ponto de vista, pode se prever que a Guerra do Afeganistão deverá continuar, mesmo sem perspectiva de vitória, e que os EUA só se retirarão do território afegão quando o “epicentro bélico” do sistema mundial puder ser deslocado, provavelmente, na mesma direção dos ponteiros do relógio.

Foto Pål Berge
* Outras Palavras é a nova versão do boletim de atualização do Le Monde Diplomatique, agora vinculado à Biblioteca Diplô e o site Outras Palavras.
A reprodução é benvinda.
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Opinião

Língua portuguesa, inovação e o futuro

por Gonçalo de Sampaio *
30.07.2010

Temos de nos unir em defesa da língua portuguesa, agora em vias de ser desprezada pelos burocratas de Bruxelas como língua tecnológica

Em recentes intervenções públicas, em Portugal e no estrangeiro, o Presidente da República, mais uma vez, e de forma muito vincada e oportuna, apelou à defesa e à projecção da língua portuguesa, reforçando o apelo à sua valorização e promoção como língua global.

A língua portuguesa, a quinta língua mais falada em todo o mundo, com cerca de 250 milhões de falantes, é hoje um valor imaterial que importa preservar e desenvolver, não se podendo desperdiçar todo o seu enorme potencial.

Contudo, na defesa da nossa língua - como aliás em tudo - a palavra não basta. São precisas realizações concretas.

Nos últimos tempos muito se tem falado da importância económica da inovação. Mas, além de inovar, importa proteger essa inovação, ganhando assim um exclusivo que permita alicerçar o retorno do investimento realizado.

Um sistema eficaz de direitos de propriedade industrial (marcas e patentes) é fundamental para o sucesso da inovação e o desenvolvimento tecnológico do país.

O conhecimento do que já está inventado é o primeiro passo para se poder inovar. Esta é a grande vantagem de a lei exigir que todas as patentes em vigor em Portugal sejam traduzidas em português, permitindo o acesso sem qualquer custo e na nossa língua a toda a informação que consideremos útil para iniciar um processo de inovação.

Actualmente assiste-se, no contexto comunitário e europeu, a mais um ataque a algumas línguas nacionais.

De facto, quer com o denominado "Acordo de Londres para aplicação do Artigo 65 da Convenção da Patente Europeia", quer no mais recente projecto da Comissão Europeia para a criação de uma patente da União Europeia, prevê-se a eliminação da exigência de tradução em português dos textos dessas patentes, devendo Portugal adoptar como sua a língua alemã, Francesa ou Inglesa!

Estes projectos, além de aumentarem o fosso entre os países mais desenvolvidos e aqueles que, como Portugal, procuram recuperar o tempo perdido, representam um ataque à língua portuguesa, impedindo a afirmação desta enquanto língua tecnológica.

Aos actuais responsáveis exige-se o mesmo esforço e a mesma capacidade que até hoje Portugal teve na defesa das empresas nacionais e da nossa língua, também no campo da inovação.

A defesa da língua portuguesa não se compadece com tibiezas ou circunstancialismos.

Porque o que está em causa é o papel que queremos que a língua portuguesa tenha na área da inovação e enquanto língua tecnológica e de futuro.

Porque é nosso dever, perante a nossa história e os 250 milhões de falantes de português.

* Gonçalo de Sampaio é agente oficial da Propriedade Industrial e
Secretário-geral da Associação dos Consultores em Propriedade Industrial

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Internet

Divulgados dados de 100 milhões de utilizadores do Facebook

por Joana Viana
29.07.2010

Autor da fuga de informação é consultor de segurança e queria provar falhas de segurança na rede social

Ron Bowes usou um programa informático para recolher dados privados de 100 milhões de utilizadores do Facebook que não os protegeram devidamente e publicou-os esta semana num único pacote que se pode descarregar na internet.

O consultor de segurança norte-americano quis, desta forma, provar que os mecanismos de segurança da rede social são frágeis e que as pessoas devem ter mais cuidado com o que publicam nela.

O pacote teve sucesso instântaneo, com mais de mil descargas no The Pirate Bay, e incluía dados como o nome, o url do utilizador e fotografias publicadas no Facebook.

A administração do Facebook reagiu de imediato, dizendo que os dados já eram públicos. "Neste caso, a informação que os utilizadores decidiram tornar pública foi recolhida por um único utilizador, mas já existia no Google, no Bing e noutros motores de busca", explicou em comunicado.
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Reino Unido

Strippers britânicos nervosos

A “indústria” do striptease no Reino Unido espera perder 15 mil postos de trabalho se os planos para alterar a lei das licenças forem concretizados.

Um novo projecto de lei, que poderá ser aprovado pelo parlamento britânico nos próximos meses, prevê que a classificação dos clubes de striptease seja a de “estabelecimentos de encontros sexuais”, fazendo com que suba consideravelmente o preço de uma licença para gerir aqueles estabelecimentos.

Hoje, a licença para abrir uma casa de striptease custa tanto como abrir um restaurante ou bar.

Os donos das salas de “strip” estão neste momento a intensificar os seus apelos para impedir mudanças na legislação que, caso venha mesmo a concretizar-se, irá afectar aquele sector e pode levar a muitos despedimentos. Consideram que os (as) bailarinos não devem ser postos na mesma categoria de “trabalhadores sexuais”.

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O que podemos aprender com as biografias de strippers

por Luís Leal Miranda
22.06.2009

Depois de Diablo Cody, ex-stripper, ter ganho um Oscar para melhor argumento, as expectativas à volta das capacidades literárias das profissionais do varão aumentaram. A revista "Slate" leu algumas biografias de strippers e encontrou muitos pontos em comum

A nossa heroína é sempre a última pessoa que imaginávamos no palco de um bar de strip. Educada, sensível e boa mãe de família.

- Da primeira vez que se despiu, foi a coisa mais natural do mundo

- A protagonista é diferente de todas as outras strippers: flácidas, drogadas, mais velhas.

- Às tantas percebemos que a stripper é uma antropóloga disfarçada, tal a intensidade da prosa.

- A nossa heroína tem limites, ao contrário das colegas. Há muita coisa que ela se recusa a fazer graças ao seu código de honra.

- Ao longo do livro vão haver muitos parágrafos dedicados à descrição de manicure, pedicure, roupa de stripper e maquilhagem.

- A autora faz questão de sublinhar que o que nos está a contar é segredo. Ao lermos o seu livro, estamos pela primeira vez a entrar num mundo onde nunca ninguém entrou.
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Espanha

Missionário defende tribos amazônicas como patrimônio da humanidade

Tribos que ainda não tiveram contato com o homem branco são grupos valiosos, diz o sacerdote

por agência Efe
29.07.2010

O missionário espanhol Miguel Ángel Cabodevilla, que atua na Amazônia equatoriana na fronteira com a Colômbia, propôs hoje declarar as tribos amazônicas que ainda não tiveram contato com o homem branco como "patrimônio da humanidade", já que são grupos "especialmente valiosos".

O sacerdote capuchinho defendeu a proposta pela proteção no curso sobre "direitos humanos, desenvolvimento humano e cidadania" que ocorreu na Universidade Pública de Navarra (UPN), com sede na cidade de Pamplona (norte da Espanha).

Cabodevilla explicou que em sua experiência amazônica manteve encontros com um grupo minoritário, os chamados taromenani, que são possivelmente parte de uma tribo já contatada no Equador, os waorani.

Estes grupos, disse à Agência Efe, representam "um grande desafio" aos denominados "direitos internacionais" porque se encontram em "uma área muito afastada" da concepção do mundo ocidental e optaram pela "não comunicação".

O missionário ressaltou que no desconhecido "continente" da Amazônia, persistem estes "redutos de patrimônio humanitário", que podem apresentar pensamentos, conhecimentos, formas de vida e de memória que para um homem branco é difícil imaginar.

Afirmou que em seus países estes indígenas "são muito desprezados" e "não se chega a compreender o incrível valor humano que têm", já que "há situações de ternura, de defesa de sua família, de repartição de bens entre eles, de convivência, que são uma maravilha".

Cabodevilla ressaltou a dificuldade de convivência com estes grupos isolados, já que "a sobrevivência na selva impõe costumes 'morais', de comportamento, familiares e econômicos" que podem parecer "absurdos, ilegais ou reprováveis", mas que "na selva, vendo como funciona aquele cosmos, é compreensível".

Argentina

Felizes para sempre

Primeiro casamento gay legalizado é celebrado na Argentina. País é o primeiro da América Latina a aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo

por AFP
30.07.2010

Dois homens que estavam juntos há 27 anos se tornaram o primeiro casal a celebrar uma união civil nesta sexta-feira na Argentina sob o amparo de uma lei aprovada pelo Congresso, uma legislação pioneira em nível nacional na América Latina.


A cerimônia civil entre o arquiteto José Luis David Navarro, de 54 anos, e o funcionário público aposentado Miguel Angel Calefato, de 65 (foto), foi celebrada na cidade de Frías, na província de Santiago del Estero, onde vivem há seis anos.

"Estamos juntos há 27 anos. Isto para nós é quase um protocolo, mas foi uma grande conquista a aprovação da lei", disse Navarro à televisão.


Navarro se mostrou surpreso porque "foi desencadeada uma correria de agendamentos de datas para serem os primeiros" a se casar através da lei aprovada no dia 15 de julho pelo Congresso, e esclareceu: "o nosso estava programado".


Pouco depois, também na manhã desta sexta-feira, um ator e um representante de artistas se casaram em um cartório de registro civil de Buenos Aires após 34 anos de convivência.

O representante Alejandro Vanelli, de 61 anos, e o ator Ernesto Rodríguez Larrese, de 60, casaram-se no mesmo lugar onde há três anos tiveram esta possibilidade negada.


A nova legislação reforma o Código Civil, mudando a fórmula de "marido e mulher" pelo termo "contraentes". Além disso, iguala os direitos dos casais homossexuais aos dos heterossexuais, incluindo os direitos de adoção, herança e benefícios sociais.

México confirma morte de líder do Cartel de Sinaloa

Ignacio "Nacho" Coronel morreu em confronto com o Exército mexicano no estado de Jalisco. Por sua captura, o Governo mexicano oferecia 30 milhões de pesos (US$ 2,3 milhões), enquanto o dos Estados Unidos daria recompensa de US$ 5 milhões.

por agência Efe
30.07.2010

O Ministério da Defesa do México confirmou nesta quinta-feira a morte de Ignacio "Nacho" Coronel, um dos principais líderes do cartel do Sinaloa, em confronto com o Exército mexicano no estado de Jalisco, oeste do país.

O general Edgar Luis Villegas explicou em entrevista coletiva que o Exército realizou, na cidade de Guadalajara, capital de Jalisco, uma operação para apreender o narcotraficante, que tentou fugir e abriu fogo, matando um militar e ferindo outro.

O exército reagiu e ele acabou morrendo. Villegas afirmou ainda que o exército também deteve Iran Francisco Quiñónes Gastélum, homem de maior confiança de "Nacho".
A operação militar ocorreu em um bairro de Guadalajara onde "Nacho" tinha duas casas que usava como base de operações, e onde os militares encontraram armamento, joias e veículos que ainda estão sendo contabilizados.

"Nacho", segundo a fonte, era um dos principais líderes do cartel das drogas de Sinaloa, organização que liderava junto a Joaquín "Chapo" Guzmán e Ismael Zambada, conhecido como "El Mayo".

Natural do estado de Durango, norte do país, iniciou suas atividades delitivas sob as ordens do narcotraficante Amado Carrillo Fuentes, conhecido como "O Senhor dos céus", um dos líderes mais poderosos do México, que morreu em 97 durante cirurgia plástica.

Depois da morte de Carrillo, de acordo com dados da Secretaria (Ministério) da Defesa Nacional, "Nacho" se uniu à organização de "Chapo" e chegou a se tornar um dos principais líderes do Cartel de Sinaloa.

"Nacho" dirigia as operações de tráfico de cocaína nos estados de Jalisco, Colima, Nayari e parte de Michoacán, no litoral do Pacífico.
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Morte de chefe do tráfico pode agravar violência no México

Por Robin Emmott
Reuters
31.07.2010
A morte do traficante Ignacio "Nacho" Coronel, ocorrida na quinta-feira em uma operação militar, representou uma vitória para o governo do México, mas pode causar mais violência, sem garantias de eliminação dos chefes mais procurados dos cartéis da droga, disseram especialistas e a imprensa nesta sexta-feira.
Cerca de cem soldados participaram da ação que matou Coronel em Guadalajara, no oeste do México, no principal golpe neste ano contra os traficantes no país.
Coronel era o terceiro na hierarquia do cartel de Sinaloa, que controla lucrativas rotas de drogas para os EUA através do oceano Pacífico. O chefe do cartel, Joaquín "El Chapo" Guzmán, é o homem mais procurado do México.
A Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA) disse que a morte de Coronel foi "um forte golpe para a capacidade de funcionamento da organização". Mas a morte dele aumenta os temores de que um eventual vazio de poder na cúpula do cartel de Sinaloa poderia causar mais violência no México, onde 25 mil pessoas morreram desde o fim de 2006, quando o presidente Felipe Calderón mobilizou as Forças Armadas para o combate ao narcotráfico.
Os crimes, alguns por decapitação, têm causado preocupação ao governo dos Estados Unidos, a investidores estrangeiros e a turistas."Como o aumento da violência é proporcionalmente direto à importância dos chefes acossados, detidos ou executados, é de se supor que o golpe a Ignacio Coronel provocará estremecimentos", escreveu em editorial o diário La Jornada.
Parte da violência se deve a disputas entre traficantes pelo controle das quadrilhas. Em 2004, Guzmán se envolveu em diversas batalhas para tentar controlar as rotas do narcotráfico depois da prisão de Osiel Cárdenas, do cartel do Golfo.
"O brilho (pela morte de Coronel) pode ser efêmero. Enquanto a federação de Sinaloa tenta se reagrupar, outras organizações buscarão sem dúvida desafiar seu domínio nessa região, como a organização dos Beltrán Leyva e Los Zetas", disse a consultoria de segurança Stratfor num relatório nesta sexta-feira.
"Isso poderia conduzir a outro pico de violência."
Para outros especialistas, inclusive da DEA, é improvável que o triunfo de quinta-feira leve as autoridades diretamente a Guzmán, o "peixe gordo" do cartel. Esse traficante de 1,55 metro foi incluído em 2009 na lista dos homens mais ricos do mundo pela revista Forbes, com um patrimônio estimado em 1 bilhão de dólares.
"Esses cartéis funcionam como células. A antiguidade de Coronel não significa que respondesse a Guzmán ou a alguma outra pessoa, ele tomava as decisões no dia a dia", disse em Washington o agente da DEA, Michael Sanders.
Um especialista mexicano disse, pedindo anonimato, que Coronel havia se distanciado de Guzmán no último ano por causa de desavenças a respeito das ambições territoriais do "Chapo."
"A aliança continuava intacta, mas o cartel não vai desmoronar com a morte de um dos seus generais", disse essa fonte.

Entrevista

O neoliberalismo selvagem

Por Patricia Lombroso,
de Il Manifesto
07.2010

Nos encontramos con Noam Chomsky, que ha estado dando una serie de conferencias en el Left Forum con el significativo título de “El centro no puede gobernar” y con ocasión de la aparición en los EEUU de su último libro (Hopes&Prospects), publicado por la editorial Haymarket.

En el ensayo analiza, junto a “las esperanzas y las perspectivas”, los peligros y las posibilidades todavía abiertas de nuestro siglo XXI, el hiato creciente entre Norte y Sur, los mitos y las ilusiones del excepcionalismo norteamericano, incluida la presidencia de Obama, los fiascos de las guerras en Irak y Afganistán, el asalto israelita-norteamericano a Gaza, la nueva división internacional del terror nuclear y la naturaleza de los recientes rescates bancarios.

“La situación que vivimos en los EEUU de hoy da miedo. El nivel de rabia, frustración y disgusto contra las instituciones ha alcanzado cota impresionantes, sin que se vea posibilidad de organizar esa rabia de manera constructiva. Los parecidos con la República de Weimar después de 1925 son asombrosas y extremadamente peligrosas”.

Con esas graves consideraciones de Chomsky abrimos la entrevista.
Noam Chomsky, que acaba de cumplir 81 años, es el intelectual vivo más citado y figura emblemática de la resistencia antiimperialista mundial.

¿Qué paralelos económicos y sociales se dan entre la realidad norteamericana actual y el período de la República de Weimar luego de 1925, que despejó el camino a Hitler?

El apoyo de base de la parte de la población alemana que abrazó la subida al poder de Hitler estaba constituida esencialmente por la pequeña burguesía y la gran industria que se sirvió del nazismo como arma política para la destrucción de la clase obrera en Alemania. La coalición de gobierno se formó mucho antes de la Gran Depresión de 1929.

Con las elecciones de 1925, la Alemania de Hindenburg – y la coalición gubernamental formada — era sociológicamente y casi demográficamente muy semejante a la que apoyó el ascenso al poder en 1933 de un personaje tan oscuro como Hitler.

Pero ya a fines de los años veinte se extendía por Alemania ese malestar original compuesto de desilusiones y de resentimiento contra el sistema parlamentario.

Se presta menos atención a un factor de gran importancia, y es que el nazismo, además de la destrucción de comunistas y socialdemócratas, triunfó también en su propósito de destruir a los partidos de poder tradicionales, conservadores y liberales, que se hallaban ya en franco declive durante la República de Weimar de los años veinte.

Esa es la impresionante analogía histórica con lo que ahora mismo está madurando en los EEUU. Los últimos sondeos de la opinión pública muestran que el asentimiento de la población a la forma de ser gobernada por demócratas y republicanos ha descendido al 20%.
El odio al Congreso y a la dirección seguida por el gobierno de la nación supera el 85%. Como en el período weimariano de Alemania, la población norteamericana está disgustada por el pasteleo entre los dos grandes partidos para salvaguardar sus propios intereses.

La difusa mentalidad que cada vez gana más adeptos entre la clase media norteamericana es la de que los miembros del Congreso deben ser combatidos como “gánsteres” y eliminados.

La composición demográfica de quienes abrazan esas ideas está formada por blancos de la América profunda, personas sin una particular identidad y, sobre todo, sin otras perspectivas políticas que las expresables en clave antigubernamental.

Esos grupos, como famoso Tea party, y otras franjas nacidas del vacío de dirección política, han sido movilizadas e instrumentalizadas por la extrema derecha, con riesgos muy serios.

Las clases industriales norteamericanas se sirven de lo que constituyen inquietudes económicas y sociales legítimas de la pequeña burguesía, a fin de criminalizar a la inmigración, y eso al tiempo que utiliza el excedente de población predominantemente afroamericana que llena las cárceles como un nuevo recuso de mano de obra de ínfimo precio en las cárceles de los estados o en las privatizadas.

¿Por qué utiliza usted el paralelo con la Alemania de Weimar, en particular, para lo que está ocurriendo en los EEUU, y no en otros sitios, como Europa, en donde los principios del neoliberalismo conservador se han visto también ampliamente realizados?

Porque Europa ha conseguido mantener todavía con vida una estructura socialdemócrata. Subrayo también que sólo América Latina, y ya desde hace una década, ha rechazado el modelo ideado en Washington.

Aquí, en los EEUU, las consecuencias de los principios del neoliberalismo salvaje están experimentando – insisto en ello — una visible quiebra.

El capitalismo ha fracasado, pero el desastre irreparable
lo paga esencialmente la mayoría de la población.

Aquí, los proyectos granempresariales en colusión con el gobierno han logrado marginar socialmente a comunidades enteras que se hallan ahora en desbandada, con el único propósito de llevar a cabo la financiarización social y económica de los “ejecutivos” de los sistemas bancarios.

Al propio tiempo, la clase emprendedora norteamericana utiliza la rabia y el disgusto de la mayoría de la población para fomentar el odio antigubernamental, aun a sabiendas del riesgo que eso trae consigo de un triunfo electoral de la extrema derecha del partido republicano.

La situación es preocupante. Porque el daño irreparable provocado por el liberalismo conservador ha provocado el resultado de un déficit público absorbido por China y Japón.

Ahora mismo, la mitad del déficit público norteamericano se debe al presupuesto de Defensa. En el contexto global, equivale al total de todos los presupuestos de Defensa del mundo entero.
La otra mitad del déficit público ha sido originada por la explosión de los gastos sanitarios dimanantes de las ineficiencias de un sistema de salud absolutamente privatizado.

Pero ahora se acaba de aprobar la reforma sanitaria promovida por Obama...

La reforma sanitaria de Obama aprobada por los demócratas no es un cambio profundo del sistema sanitario norteamericano; la industria privada de la sanidad la vive, al fin y al cabo, como una victoria política.

Y en el fondo del escenario, la realidad sigue siendo harto dramática, porque la desocupación sigue avanzando y la recuperación económica no termina de llegar.
* Noam Chomski es profesor emérito de lingüística en el Instituto de Tecnología de Massachussets en Cambridge.
Il Manifest0

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Só se fala nele

Para John Maynard Keynes o desemprego elevado resultava da falta de demanda de produtos e serviços. Sua solução: que os governos se encarregassem do déficit investindo em obras públicas e outros projetos para aumentar a necessidade de trabalhadores. As propostas respaldaram a política do New Deal do presidente Franklin Roosevelt.

Keynes, John Maynard (1883-1946), economista britânico.
Em 1930, escreveu o “Tratado sobre o dinheiro”, procurando explicar por que a economia funciona de forma irregular, enfrentando alterações nos ciclos econômicos. Em sua obra “A teoria geral do emprego, lucro e moeda” (1936), analisou os problemas relativos às grandes recessões, sustentando a inexistência de mecanismos de ajuste automático que permitam à economia recuperar-se delas.

Afirmava que a poupança não investida prolonga a estagnação econômica e que o investimento das empresas comerciais depende da criação de novos mercados, de novos avanços técnicos e de outras variáveis independentes da taxa de juros ou da poupança.

Dado que o investimento empresarial flutua, não se pode esperar que este possa preservar um alto nível de emprego e receitas estáveis; e propõe que o gasto público deve compensar o investimento privado insuficiente durante uma recessão.

Em 1944, dirigiu a delegação britânica na Conferência de Bretton Woods, onde promoveu a criação do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Suas idéias influíram na criação de uma nova escola de pensamento denominada keynesianismo.


Olé! Catalunha proíbe tourada a partir de 2012 e abre guerra à tradição

por Mariana de Araújo Barbosa
29.07.2010

Decisão do Parlamento de Barcelona abre precedente e aumenta distância entre Espanha e a província catalã

A medida promete agitar os que estão contra, os que concordam e os países europeus com iniciativas semelhantes. O Parlamento de Barcelona aprovou ontem a proposta da Iniciativa Legislativa Popular (ILP) para proibir as corridas de touros na Catalunha.

Com 68 votos a favor e 55 contra, a lei deverá entrar em vigor a 1 de janeiro de 2012. A região autónoma espanhola põe fim às corridas de touros nas praças catalãs. Depois de aprovada a proposta popular, abre-se assim um precedente quanto à festa taurina e aumenta o abismo que separa a província do restante território espanhol.

"É claramente uma jogada política de um governo que não é taurino, mas não respeita os gostos dos outros. É um atentado à liberdade dos que querem sentir a festa dos touros, pelos seus gostos, pela sua aficción", é a análise feita para o i por Rui Bento Vasques, director da Praça de Touros do Campo Pequeno.

Os fãs da Monumental de Barcelona têm sensivelmente um ano e meio para aproveitarem a aficción. No final da votação, o presidente da assembleia, José Montilla, disse esperar "moderação e sentido de responsabilidade de toda a gente".

A notícia foi celebrada e criticada simultaneamente. Enquanto os populares comemoravam a aprovação do diploma, a presidente do PP na Catalunha, Alicia Sánchez Camacho, assegurou tratar-se de um "dia triste". "Não se pode estar a favor ou contra uma festa dos touros", sublinhou.

"A decisão tem muito significado, mesmo numa sociedade que aparentemente possa não ter grande ligação à festa da tourada. Isto faz parte das raízes culturais de Espanha. E cá em Portugal também está muito enraizado. Basta ver que as nove corridas que fizemos esta temporada estiveram completamente lotadas", explica Rui Bento Vasques, acrescentando que a decisão "viola o direito a um espectáculo que quem quer desfruta. Liberdade é isso mesmo".

dos desenhos animados

A proposta encerra um processo que durou um ano e meio no parlamento catalão. De acordo com Pere Navarro, responsável da Direcção-Geral de Trânsito, a origem é mais profunda: "Trata-se um processo natural de consciencialização cultural contra tudo o que tenha a ver com sofrimento animal, por causa de filmes infantis como o 'Bambi'", analisou ontem.

"As coisas têm a sua própria evolução, vão fazendo o seu caminho." A iniciativa partiu dos Populares através da plataforma Prou!, que reuniu mais de 180 mil assinaturas contra os festejos.

Brigitte Bardot, uma das actrizes que mais têm lutado pelos direitos dos animais no mundo, considerou a decisão "uma vitória da dignidade sobre a crueldade. A tourada é de sadismo incrível. Já não estamos nos jogos circenses e é necessário pôr fim imediato a esta tortura animal". Bardot acrescentou que a aprovação da lei abre caminho à abolição europeia da "barbárie". "Recorreremos à iniciativa de cidadãos prevista pelo Tratado de Lisboa", sublinhou a actriz.

Depois da aprovação na assembleia catalã, a proposta segue para novas instâncias: os que estão a favor das touradas já anunciaram que vão recorrer ao Tribunal Constitucional, com apoio do PP. Já os populares vão continuar a lutar pelos direitos dos animais, já com uma vitória no bolso.
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Madrid declara touradas como Património Cultural


por Maria Catarina Nunes
08.04.2010

As touradas são “Bem de Interesse Cultural (BIC)”, declarou o conselho do governo da comunidade Madrid.
A intenção é proteger o valor “social e ecológico” da festa brava, segundo informou Ignacio González, o vice-presidente e porta-voz regional.

Esperanza Aguirre, a número dois do executivo, assegurou que esta decisão “não vai contra nada”, já que defende as touradas, afirmando que são “uma das mais antigas tradições de Espanha e do mediterrâneo”.

González explicou ainda que através desta declaração o estudo e a conservação da tauromaquia vão ser preservados. O vice-presidente destacou que as touradas fazem parte do património cultural da Comunidade de Madrid até ao ponto de que a figura do touro aparece representada em diversos escudos municipais.

No passado dia 4 de março o executivo regional pôs em marcha a declaração de BIC para as touradas nacionais na comunidade, que coincidiu com o debate que se celebrava na Catalunha acerca da sua possível proibição naquela autonomia.
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Um centro para Paul Klee, artista, musicólogo e pedagogo

por Nicole Aeby

Como Paul Klee não era só pintor, o centro que lhe é dedicado não é só um museu mas um espaço para persquisadores, amantes de música e ainda para crianças.

Construído em Berna, capital suíça, o centro foi projetado pelo famoso arquiteto italiano Renzo Piano e reúne mais de 4 mil das 10 mil obras de Klee, na maior coleção monográfica do mundo.


O nome já diz bastante : "centro", não museu. Um clássico museu de arte coleciona e conserva obras, além de expô-las. O Centro Paul Klee engloba também outras formas de arte e tira sua força do conceito de mediação.

Através de concertos, representações teatrais, leituras, programas acadêmicos de verão e oficinas, pretende abrir novas vias para facilitar o acesso do público a obras ilustrativas, musicais, literárias e pedagógicas de Paul Klee. Ao mesmo tempo, uma seção especial de pesquisa, no interior do prédio, deseja assumir papel de centro de competência científica.

São três colinas artificiais em forma de onda na periferia de Berna, envoltas na paisagem verde e ligadas por uma passarela: uma escultura paisagística, um trabalho mais de topógrafo do que de arquiteto, segundo Renzo Piano.

Klee, artista e poeta figurativo
A coleção Klee, coração do Centro, encontra-se na colina central. Inclui mais de 4 mil obras, o que corresponde quase à metade do patrimônio artístico deixado por Klee.

Estão também expostas, ao lado de muitas telas famosos, obras da juventude e objetos e quadros particulares que, por exemplo, Klee havia recebido de presente de Wassily Kandinsky, Franz Marc ou Alexej von Jawlensky, artistas com os quais estabelecera relações de amizade.

Na exposição permanente no andar térreo podem ser admiradas cerca de 200 obras que serão substituídas 2 vezes por ano. Já no andar inferior haverá todos os anos quatro exposições especiais dedicadas especialmente à atmosfera histórica e cultural dos tempos de Paul Klee e da influência exercida sobre a arte contemporânea.

Klee pesquisador e musicólogo
O confronto científico com a obra de Paul Klee pode ser visto na colina sul e foi possível graças aos recursos da ex-fundação Paul Klee, criado há mais 50 anos e que teve uma papel de vanguarda como centro de pesquisa.

Mas Paul Klee era ainda um excelente violinista: daí o centro ter uma grande sala de concerto, situada na colina norte, e um arquivo amplo e cientificamente organizado com 250 partituras, das quais 170 composições que referem-se à obra de Klee ou dela foram inspiradas.

Klee pedagogo
Um outro espaço do museu é dedicado às crianças. Criativo, financiado por uma fundação independente e que dispõe de seu próprio orçamento. O museu visa promover conceitos pedagógicos que Paul Klee havia elaborado durante o período em que foi professor, na Alemanha.
Com outros artistas de sua época, Klee buscava as raízes da arte na criatividade natural das crianças. Criar é próprio das crianças "de 4 a 99 anos", dizia Klee. Os três ateliês do Centro oferecem a possibilidade de deixar fluir livremente a criatividade.

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Suiça

Hospício do Gotardo é reaberto

por Gerhard Lob
28.07.2010

A inclusão do antigo abrigo no passo do Gottardo na lista do patrimônio cultural europeu é comemorada oficialmente na Suíça.
A presidente suíça, Doris Leuthard, irá inaugurar o hospício reformado para funcionar como hotel em 1° de agosto, o dia nacional helvético.

O hospício [ estabelecimento onde se dá hospedagem e/ou tratamento gratuitos a pessoas pobres ou doentes; asilo, abrigo – Houaiss] foi construído provavelmente no século 13. Ele seria a mais antiga construção no passo do Gottardo e também a mais carregada de história.Por várias vezes o prédio, que se situa a 2.100 m de altitude, foi reconstruído e reformado.

O escritor alemão Goethe já pernoitou por lá, assim como os compositores Mendelssohn ou Wagner. No seu lado direito foi construída no século 16 uma pequena capela. Em 1963, o hospício abrigava um padre. Já no séc. 18, depois da queda de avalanches do Monte Prosa, ele foi reformado para se tornar um abrigo de monges capuchinhos e, posteriormente, expandido várias vezes.

No início do séc. 20, o prédio pegou fogo e foi quase inteiramente destruído e depois reformado. Porém o antigo hospício acabou sendo esquecido atrás de novas construções como a do Hotel São Gottardo - e ultimamente era parcialmente utilizado pelos empregados do hotel.

Memória
"Também nós, do cantão do Ticino, nos esquecemos dele", concorda o senador suíço Dick Marty. Ele é presidente da Fundação Pró São Gottardo, proprietária desde 1972 do antigo hospício e responsável pela mais recente e ampla reforma. Segundo Marty, ela era necessária para dar o brilho do passado a um lugar com tanta força simbólica: "O São Gottardo é o verdadeiro símbolo da Suíça e não os pastos do Rütli, que mais representam um mito".

O passo do Gottardo se transformou nos últimos anos em um gigantesco canteiro de obras. Porém seu símbolo continua sendo o antigo hospício. A dimensão europeia dessas obras está presente por todos os lados. O passo sempre foi um ponto de passagem no caminho entre o sul e o norte da Europa.

Patrimônio cultural europeu
Exatamente por essa razão a Secretaria Federal de Cultura incluiu o hospício do Gottardo, a catedral de São Pedro em Genebra e o castelo de La Sarraz na lista de patrimônio cultural europeu.Esse selo tem por objetivo valorizar bens culturais, monumentos, conjuntos urbanos, sítios naturais assim como construções que representam testemunhos da história e da herança cultural europeia.

Há poucos dias a plaqueta azul com a inscrição "Patrimônio cultural europeu" está fixada na entrada do hospício. Este, depois de três anos de trabalhos de reforma, ganhou uma nova aparência e no final de julho estará aberto ao público como um hotel de três estrelas, com 14 quartos e 30 camas, assim com espaços coletivos no primeiro andar.

Os quartos foram batizados com nomes de personalidades que já pernoitaram ali no passado. Ele não será administrado de forma independente, mas sim como dependência do Hotel São Gottardo. Em 1° de agosto, dia nacional helvético, a presidente suíça, Doris Leuthard, fará sua inauguração oficial.

Reforçar a identidade do prédio

As reformas são de autoria dos arquitetos Quintus Miller e Paola Maranta, de Basileia. Todos os quartos estão decorados com tons de madeira. Embaixo do frontão existe até uma suíte. As janelas duplas de vidro permitem apreciar a paisagem natural. Os banheiros são elegantes e estão revestidos com azulejos pretos. A renovação do antigo hospício foi para os arquitetos um grande desafio, sobretudo em unir as tradições ao moderno. "Queríamos reforçar a identidade do edifício e por isso o elevamos em um piso", explica Miller.

Cinco milhões investidos
A fachada sul, com suas pequenas janelas, lembram mais uma "marmota em pé e que olha em direção ao sul". A fundação Pro São Gottardo investiu aproximadamente cinco milhões de francos na renovação do antigo hospício. Este deve estar aberto apenas durante o verão, coincidiindo com a abertura do passo. No inverno, o acesso à região é bem mais difícil.

Porém Dick Marty tem um sonho: "Espero poder abrir o hospício durante algumas semanas do inverno, quando no passo tudo está mais tranquilo". A viagem será um pouco mais complicada, pois o visitante necessitará de raquetes de inverno ou esquis de passeio.

Adaptação Alexander Thoele


Aniversário

Salazar morreu há 40 anos, mas os discípulos ainda andam por cá

por Kátia Catulo
27.07.2010

São uma minoria, mas asseguram que, nos tempos de crise, os defensores do ditador estão em todo o lado

Faz hoje 40 anos que António de Oliveira Salazar morreu, ficando para a história como o homem que liderou a ditadura mais longa da Europa. Depois da sua morte veio a revolução de Abril, a democracia, a Comunidade Económica Europeia, o rock dos anos 80, o multibanco e o cartão de crédito.

E o ditador foi ficando para trás, "vagamente presente" na memória dos que hoje "têm menos de 40 anos", explica António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais. Apesar de tudo isso, Salazar sobrevive. Ainda há quem o defenda na praça pública sem qualquer embaraço.

São "uma minoria", esclarece o especialista em ciência política, mas o certo é que fazem barulho suficiente para, à primeira oportunidade, ressuscitar a figura do ditador e transformá-lo numa vedeta pop capaz de vencer com larga maioria os concursos televisivos como o "Grande Português" do século XX.

João Gomes, empresário de Lisboa, Filipe Ferreira, historiador e ex-militar da Força Aérea emigrado em Bruxelas, ou Vítor Luís Rodrigues, designer e publicitário a viver na capital, pertencem a esta espécie de gueto que se organiza em circuito quase fechado para relembrar os velhos tempos do Estado Novo.

Defendem Salazar contra todos, nas ruas, à mesa dos restaurantes, nos cafés, na blogosfera, mas recusam ser encarados como homens a tresandar a naftalina ou como habitantes de uma ilha suspensa no tempo. O elogio ao ditador é acima de tudo um queixume amargurado sobre a "decadência da democracia" ou um descontentamento permanente porque os valores como a "ética, a integridade e o patriotismo estarem em vias de extinção", desabafa Vítor Luís Rodrigues.

Os admiradores de Salazar martelam quase sempre na mesma tecla. Gostavam de viver num Portugal sossegado. Sem crime, sem ameaças exteriores, sem corrupção e com políticos de liderança forte. Isso não significa que queiram Salazar de volta. "Não defendo o regresso do Estado Novo nem tenho qualquer réstia de saudosismo", esclarece Filipe Ferreira, membro do Núcleo de Estudos Oliveira Salazar, sediado em Lisboa.

Salazar é apenas o modelo que qualquer político deveria seguir nos seus actos e princípios: "Pedia aos outros o mesmo que pediu a si próprio", explica o emigrante de 48 anos. Ou dito de outra forma para dizer o mesmo: "Foi o governante que menos se apropriou dos bens públicos, que morreu sem um tostão e que governou tendo sempre como objectivo os interesses do país", acrescenta João Gomes, autor e administrador do blogue "Obreiro da Pátria".

É o trunfo de Salazar. Gastou pouco e, mesmo após a sua morte, a modéstia perdurou: deixou uma conta bancária na Caixa Geral de Depósitos de 274 892 escudos, terras avaliadas em 100 contos e foi sepultado numa das campas mais simples do cemitério do Vimieiro.

E é esse "sentido de poupança" que é preciso recuperar, defende Vítor Luís Rodrigues. Sobretudo agora que a "dívida pública engorda aos milhões a cada semestre, que a taxas de juro sobem, que as famílias endividadas se multiplicam, que o desemprego bate recordes", avisa o designer de 54 anos.

Vítor Luís Rodrigues, Felipe Ferreira e João Gomes "prezam e respeitam" a figura de Salazar, mas não são "salazaristas". Há uma distância rande entre uma coisa e outra, esclarecem todos eles. "Não se pode fazer a transposição directa das suas políticas que tiveram um contexto próprio", explica o publicitário.

"Cada homem tem o seu tempo", mas é sempre possível olhar para os princípios que Salazar defendeu e adaptá-los à democracia de hoje, diz o bloguer de 55 anos: "Trabalhar para o bem comum sem se render aos interesses de clãs e de grupos poderosos", remata João Gomes.

Defender Salazar pode ser hoje uma teimosia rara, mas está longe de ser uma cruzada, asseguram os admiradores do ditador. João Gomes criou o blogue "Obreiro da Pátria" há quatro anos e diz que são cada vez mais os curiosos que visitam o site "à procura dos verdadeiros factos sobre a sua vida".

Felipe assume que "evoca" Salazar na rua ou nos cafés e nunca sentiu qualquer hostilidade: "Nem sou eu que puxo pelo tema; é o tema que vem ter comigo." E nos últimos anos, cada vez mais: "Salazar tem o mesmo efeito que a religião - as pessoas lembram-se dele quando a vida não corre bem."

Vítor Luís Rodrigues "não tem pejo" em dizer que Salazar foi o "maior português do século XX" e não é por isso que o insultam nas ruas: "Ao contrário, o povo é ainda mais radical."

Um pouco por todo o lado, diz o publicitário, há gente a defender o ditador. Saber ao certo quantos são é que é mais difícil. Não há estudos e o único inquérito que avaliou o que pensam os portugueses sobre a democracia foi realizado em 2004 por ocasião das comemorações dos 30 anos do 25 de Abril. "Seria muito importante ter mais indicadores para as elites políticas e económicas conseguirem um retrato mais fiel sobre a nossa sociedade", defende o investigador António Costa Pinto.
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O mecenato está em declínio e a política esquece a cultura

por Francesco Alberoni
sociólogo e jornalista
27.07.2010

Há umas décadas, o mecenato era obra de industriais e comerciantes bem-sucedidos. Hoje as empresas estão entregues a tecnocratas que não conhecem o valor da cultura

Até há não muito tempo, a única maneira de alguém ficar verdadeiramente rico era tornar-se empresário industrial. Muitos partiram do zero e, pouco a pouco, criaram empresas próprias, inventando os produtos, a maquinaria e o sistema de distribuição em conjunto com os seus colaboradores, técnicos e operários. Em seguida inundavam o ambiente social que os rodeava, imprimindo-lhe o próprio andamento.

Por vezes reuniam em torno de si cientistas, artistas, escritores e criavam prémios literários. Nomes como Agnelli, Mattei, Ferrari, Ferrero, Barilla, Marzotto, Ratti, Merloni, Pirelli, Mondadori, Trussardi, Della Valle, Rizzoli, Benetton, Borletti, Zegna e Armani são evocativos de gigantescos complexos industriais, fantásticos palácios, fundações, iniciativas culturais e colecções de arte maravilhosas.

Já hoje em dia a riqueza advém cada vez mais da incursão no sector financeiro ou do êxito desportivo ou televisivo. Muitas empresas há que são dirigidas por um gestor que salta de firma em firma e de país em país, não se interessando grandemente por criar uma sede elegante, uma rede de relações humanas estáveis ou uma comunidade de artistas. Muitas vezes, se não tem gosto próprio, contrata o arquitecto mais famoso que consegue. Para a publicidade recorre a uma agência, para congressos e seminários confia nos pivôs televisivos mais conhecidos.

O mecenato, que nascia do encontro pessoal entre empresários e homens da cultura, está em declínio. Hoje em dia, a alta cultura é financiada essencialmente pelo Estado ou pela administração pública. Mas até os políticos deixaram de ter o saber de antigamente e, absorvidos pelas extenuantes batalhas verbais, trabalham para os resultados eleitorais imediatos. Não dialogam, não fazem projectos a longo prazo nem criam instituições culturais de grande fôlego.

Todavia, para que um país cresça, tem de construir uma relação humana estreita entre o meio político, o tecido empresarial e a alta cultura. Para dar um passo nessa direcção, é preciso que os políticos reservem algum tempo para procurarem e depois confiarem a criação e a gestão de instituições culturais a homens de alta cultura, que sejam simultaneamente grandes dirigentes e grandes gestores.

Não bastam gestores de pura formação económica, não bastam os militantes ou filiados. Os políticos devem voltar-se para pessoas com uma formação profunda, dotadas de um verdadeiro saber e de uma moral de uma qualidade capaz de lhes dar as condições para julgarem e escolherem. Eis um desafio importante para a classe política de hoje e de amanhã.
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Fertilidade

Análise do sangue permite prever idade da menopausa

por Marta F. Reis
28.06.2010

Investigador iraniano anuncia novo cálculo da fertilidade

Cientistas da Universidade de Ciências Médicas Shahid Beheshit, em Teerã, dizem ter desenvolvido um método capaz de prever a idade de menopausa logo a partir dos 20 anos. A ferramenta vai ser apresentada hoje no encontro anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em Roma, numa altura em que a maternidade se torna uma equação complicada: como cada vez se é mãe mais tarde, aumentaram as surpresas e dificuldades na hora de engravidar.

Ramezani Tehrani, coordenadora do estudo, acredita que a nova ferramenta é uma forma muito mais "realista" de prever a menopausa do que a tradicional barreira dos 45/50 anos.

O estudo

A equipe aproveitou os dados de 266 participantes num estudo nacional sobre glucose e lípidos - que desde 98 estão a ser acompanhadas com análises periódicas ao sangue - para tentar perceber se existia algum padrão nos níveis da Hormona Anti-Mulleriana (HAM) no conjunto de mulheres que durante o projecto acabou por entrar na menopausa, ao todo 63.

A hormona HAM controla o desenvolvimento de folículos nos ovários e tem vindo a ser apontada como um bom indicador de fertilidade. Faltava, contudo, encontrar uma forma prática de a utilizar como ferramenta preditiva. Numa nota do encontro em Roma, Tehrani explica que foi possível desenvolver um método estatístico capaz de revelar a idade prevista da menopausa consoante os níveis de HAM no sangue em determinada faixa etária.

"Por exemplo, se uma mulher de 20 anos tiver uma concentração de HAM de 2,8 nanogramas por mililitro de sangue, estimamos que vai atingir a menopausa entre os 35 e os 38 anos", sublinha a investigadora. A tabela de conclusões revela vários valores capazes de projectar a menopausa: numa análise feita aos 20 anos, 4,1 ng/ml indiciam uma menopausa precoce; já quem aos 25 anos apresente níveis de 3,8 ng/ml pode ficar mais descansada: a fertilidade deverá prolongar-se para lá dos 50 anos.

"Que tenhamos conhecimento, esta é a primeira previsão da idade da menopausa que partiu de um estudo populacional. Achamos que estas estimativas serão suficientes para entrar na prática médica, de modo a ajudar as mulheres no planeamento familiar", afirma Tehrani.

É uma ajuda preciosa em face das tendências da maternidade nos países desenvolvidos, onde adiar a maternidade nem sempre é compatível com o facto conhecido de que a fertilidade é limitada. Quando uma mulher nasce, tem um a dois milhões de folículos imaturos, que darão mais tarde origem a óvulos e poderão ser fecundados.

Destes, apenas 400 mil sobrevivem à puberdade e cerca de 400 poderão efectivamente dar origem a um filho. Isto pelo método natural, já que a procura tem vindo a subir muito no que diz respeito a procriação medicamente assistida. al nos países desenvolvidos. No
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Inveja


Quando a inveja destrói os grandes talentos

por Francesco Alberoni
15.06.2010

Basta uma gota para se passar de um estado de graça à desgraça, mesmo que a pessoa não tenha cometido qualquer erro e seja apenas alvo de boatos ou insinuações maldosas

O caso de Laura Antonelli, uma das mais belas e famosas actrizes do cinema italiano, vítima da maldade e da desgraça, fez-me pensar em todas as pessoas famosas e meritórias que, ao longo da história, acabaram na pobreza ou foram perseguidas injustamente.

É fácil passar do aplauso ao desprezo, da glorificação ao insulto [aqui são as atitudes dos outros que "passam" de uma coisa a outra]. Mesmo quando se trata de pessoas nobres e inocentes, basta um pingo de lama para que haja logo quem lhes encontre defeitos e lhes agigante os erros.

Muita gente de valor foi destruída assim. Sócrates, o pai da moral racional, foi condenado à morte; Cipião, o conquistador de Cartagena, foi acusado e obrigado a partir para o exílio; Galileu, o maior cientista da história, foi preso, e Lavoisier, o criador da química, morreu na guilhotina entre insultos da populaça; Semmelweis, que descobriu a cura para a febre puerperal, causadora de grande mortandade entre as mulheres, foi internado num manicómio.

Em Itália ocorre-me o que foi feito a Enzo Tortora *, um homem doce e amado pelo povo que foi vítima de acusações infames e objecto de escárnio.

Há uma proximidade misteriosa entre a glória e o desprezo. Os mesmos que gritaram "Viva" agora gritam "Abaixo"; quem gritou "Amo-te" agora grita "À morte". Mas temos de estar atentos, porque esta mudança imprevista de opinião não acontece espontaneamente, é sempre obra de alguém que já sentia ódio e que aproveita a oportunidade adequada [a que esperava] para convencer os outros.

De facto, todos aqueles que se distinguem, que têm valor, que são amados e admirados têm inimigos que os odeiam e invejam de modo feroz. Enquanto são amados, admirados e têm poder, estas pessoas cheias de inveja e de ódio resmungam e queixam-se, mas só podem remoer e sonhar com a vingança.

Mas assim que as pessoas de valor ficam mais fracas, cometem um erro ou são acusadas injustamente, lançam as suas campanhas de calúnia e difamação, espalham todo o tipo de mentiras, berram "escândalo" e fazem com que pareçam biltres.

Além disso, como tais pessoas são decididas e organizadas, conseguem arrastar as outras. É verdade que também há quem não se deixe convencer, mas a maior parte segue-os como um rebanho. É assim que uma minoria de velhacos e invejosos, manobrando as desconfianças, as suspeitas e a credulidade, consegue destruir aqueles que são melhores que eles. Sociólogo e jornalista

* Enzo Tortora, um apresentador de TV, foi injustamente acusado de pertencer à Camorra e de tráfico de droga. Morreu pouco depois de ter sido reabilitado.
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Crise no comércio trava entrada de falsificações na Europa

por Luís Reis Ribeiro
24.07.2010

Menos consumo e mais desemprego reduzem procura de produtos, verdadeiros ou falsos. Tabaco, têxteis e medicamentos são os mais apetecíveis

A crise no comércio mundial ajudou a travar a entrada de produtos falsificados nos países da União Europeia. Portugal, uma das portas de entrada privilegiadas do comércio na Europa, registrou uma das maiores quebras na UE: o número de artigos contrafeitos apreendidos caiu mais de 61% em 2009, apesar dos redobrados esforços das autoridades. As maiores reduções aconteceram em Espanha, na Dinamarca, na Polónia e na Holanda.

De acordo com o relatório da divisão de assuntos alfandegários da Comissão Europeia, Portugal não está só, já que, no seu conjunto, a UE registou um decréscimo de 34% no número de artigos falsificados, para um total de 118 milhões de unidades em 2009. Um ano antes foram apreendidos cerca de 179 milhões de artigos. A nível europeu, os produtos mais afectados pela contrafacção são os cigarros e outros tabacos (35% do total), etiquetas e emblemas (13%) e medicamentos (10%).

Bruxelas reconhece que a situação de crise na economia global em 2009 "afectou de forma significativa o comércio internacional". Mesmo assim, continuam os serviços da Comissão, "o número de intervenções das alfândegas mantiveram-se num nível relativamente elevado face aos anos precedentes". De facto, o número de casos detectados caiu 12%, depois de ter crescido 13% em 2008 e 17% em 2007. A Comissão recorda que as importações da UE (compras a países estrangeiros) caíram de forma abrupta, cerca de 23%.

Vários economistas concordam que a recessão interna combinada com mais desemprego reflecte-se numa redução do consumo, sobretudo de bens importados, sejam eles legais ou não.

Em Portugal, mostra Bruxelas, o número de casos intervencionados pelas Alfândegas, direção integrada no Ministério das Finanças, mais do que duplicou, passando de 807 para 1.732 casos entre 2008 e 2009. Foi, aliás, um dos países (juntamente com a República Checa, Estónia e Luxemburgo) onde se registrou dos maiores aumentos nas operações contra os falsificados. Ainda assim, o volume de produtos capturados diminuiu.

Embora os números do governo não coincidam exactamente com os da Comissão devido a divergências de classificação, percebe-se que o ano de 2009 foi 'salvo' por quatro mega apreensões de tabaco contrabandeado, que deram um total de 10,4 milhões de cigarros (cerca de 520 mil maços).

Fonte oficial das Finanças refere, em nome da Direcção-Geral das Alfândegas (DGAIEC), que "todos os anos se realizam apreensões de tabaco, mas nuns mais do que noutros". Contudo, "2009 foi um dos anos em que a DGAIEC maior volume de tabaco apreendeu em resultado de quatro grandes apreensões realizadas em contentores, dando assim expressão aos números que constam dos seus quadros de resultados na área anti fraude"

Para além do tabaco, os medicamentos falsos, sobretudo comprimidos contra a disfunção eréctil masculina procedentes da China e Índia, continuam a entrar a bom ritmo: segundo o governo, mais 92% que em 2008, ou seja, um total de 54 mil pílulas apreendidas no ano passado.
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SUIÇA

Produtores de absinto querem registrar apelação

por Daniele Mariani
27.07.2010

O absinto deve ter uma indicação geográfica protegida (IGP). É o que pedem os produtores da chamada "fada verde", do Vale de Travers, uma região próxima à fronteira francesa no cantão de Neuchâtel. Essa região é berço histórico da bebida que, até pouco tempo atrás, era proibida pela Constituição suíça. Mas a batalha dos produtores será longa e difícil.

Elogiando a poesia do absinto e comparando a bebida ao pôr do Sol, o escritor irlandês Oscar Wilde tinha uma verdadeira paixão pelo absinto. E ele não era o único.

A água gelada que se despeja gota a gota na colher furada para diluir o açúcar provoca reflexos azulados no álcool translúcido. E sob o efeito da mistura, o líquido transforma-se pouco a pouco em uma nuvem de um branco leitoso.

Entre cerimonial e eflúvios inebriantes, o absinto não cessa de fascinar. Esse interesse foi manifestado por numerosos artistas da segunda metade do século 19 como Rimbaud, Verlaine, Gauguin, Toulouse Lautrec, Manet e Baudelaire, entre outros, cuja bebida predileta era o absinto.

Mítica e maldita
Nessa época, a bebida era muito consumida nos bares de Montmartre, o famoso bairro parisiense, até a interdição de sua produção e comercialização em vários países. Na Suíça, caso único, a proibição foi inscrita na Constituição Federal em 1908.

A França a proibiu em 1915. Mais que poética, a bebida era então considerada maldita. Além de suas propriedades alucinógenas – o apelido de "fada verde" teria sido colocado por Oscar Wilde – a bebida era considerada altamente perigosa e responsável por muitas doenças.

A qualidade comercializada nem sempre era das melhores e o teor de álcool era próximo a 70%. Mas as causas da interdição eram outras."Os poderosos grupos de pressão dos viticultores e cervejeiros é que conseguiram a interdição do absinto", explica Yves Kübller, proprietário da maior destilaria na região de Val-de-Travers, no cantão de Neuchâtel, perto da fronteira francesa.

"Naquela época, o absinto era mais barato do que a cerveja e o vinho e, portanto concorrente. Ademais, a crise econômica no final do século 19 tinha agravado o problema do alcoolismo e finalmente foi o absinto que pagou a conta", acrescenta. Na Suíça, a interdição só acabou em 2005.

Quase um século depois de proibi-la, mesmo se clandestinamente a produção nunca parou, tomou-se consciência de que o absinto não era mais perigoso do que as outras bebidas fortes.

A tujona, molécula presente na Artemisia absinthium, principal erva medicinal com anis e raiz de erva-doce, que entra na composição da bebida, pode ter efeitos nocivos sobre o sistema nervoso, se consumido em grandes quantidades."Cálculos demonstraram que seria necessário beber cerca de 80 copos por dia para ser perigoso. É claro que o álcool causaria danos bem mais graves antes disso", afirma Yves Kübler.

Um alambique no DNA

A primeira destilaria de absinto foi aberta no vilarejo de Couvet, em 1797, por Daniel Dubied. Com seu genro, Henri-Louis Pernod, ele foi o primeiro a comercializar a bebida alcoolizada. A história diz que a receita lhe foi transmitida por uma curandeira, que preparava a bebida com fins terapêuticos.

Alguns anos mais tarde, Henri-Louis Pernod decidiu abrir sua própria destilaria em Portalier, do outro lado da fronteira, em 1805, e entrar no mercado francês.Apesar de um século de interdição, o conhecimento dos destiladores do Val-de-Travers, verdadeiro berço do elixir, nunca foi perdido.

A proibição não impedia pequenos produtores a continuar aquecendo os alambiques. Bastava ser discreto e ninguém os denunciava às autoridades.Yves Kübler, por exemplo, diz que tem um alambique em seu DNA. Há quase 150 anos, em 1863, um dos seus ancestrais abriu uma destilaria na região.

Em 1990, ele reativou a empresa familiar, que tinha cessado as atividades em 1962. "Quando meu avô decidiu parar a produção, nenhum de seus filhos quis continuar. Finalmente foi minha mãe que me transmitiu essa paixão e, aos 15 anos, comprei meu primeiro alambique de um amigo", recorda.

Depois da legalização da "Azul" – um dos apelidos do absinto – essa paixão transformou-se em atividade profissional. Graças à perseverança, ele foi um dos primeiros a entrar no mercado norte-americano. Nos Estados Unidos, o absinto conquistou celebridades como os atores Johnny Dep e Marylin Manson.

Proteção necessária
Mas esse mito corre o risco de se perder pela produção de absinto em outros países sem nenhuma tradição, de acordo com Yves Kübler."Hoje, sob apelação absinto, vende-se qualquer coisa. Certos produtores utilizam óleos essenciais no lugar de plantas medicinais.

Outros se contentam de macerar uma mistura sem destilar e essas bebidas são intragáveis. Se alguém se aventurar a provar um desses pretensos absintos, certamente não vai tentar a experiência uma segunda vez.

Essa constatação levou os membros da Associação Interprofissional do Absinto a depositar na Secretaria Federal de Agricultura (OFAG), um pedido de registro de região geográfica protegida (IGP) do absinto. Uma espécie de apelação de origem controlada.

"Pedimos que as denominações Absinto, Fada Verde e Azul sejam reservadas ao produto destilado no Val-de-Travers. Queremos preservar a tradição e estimular o desenvolvimento econômico dessa região", explica o presidente da associação, Thierry Béguin.

Batalha difícil
A batalha pelo registro será difícil e poderá ser decidida no Supremo Tribunal Federal. Entre os opositores estão o grupo francês Pernod-Ricard (empresa fundada por Henri-Louis Pernod em 1805 e retomada pela Ricard em 1975).

Frente a esse gigante do setor, cerca de 20 pequenos produtores do Val-de-Travers terão dificuldade em vencer."Nosso dossiê é sólido e prova sem qualquer dúvida que nosso vale é o berço histórico do absinto", defende Thierry Béguin.

Mas a justiça não é uma ciência exata e "o ministro francês da Agricultura, encorajado pela direção do grupo Pernod-Ricard, deverá sem dúvida pressionar", prevê Béguin. Mas os cidadãos do Val-de-Travers não costumam baixar os braços facilmente.

Um século de proibição não os impediu de manter a tradição. E a destilação do absinto ainda vai continuar por muito tempo, com ou sem IGP.

Fabricação

Destilação
O absinto é produzido com a maceração de diversas plantas aromáticas durante horas no álcool a 95°.

Plantas
As plantas que entram na composição são principalmente grãos de anis, raiz de erva-doce e naturalmente o absinto (Artemisia absinthium). Na bebida fabricada no Val-de-Travers, só é utilizado o absinto cultivado na região. O anis e a erva-doce são importados porque o clima suíço não permite cultivá-los.

Ervas medicinas
Cada produtor acrescenta outras ervas medicinais, segundo sua própria receita. São principalmente, hissopo, menta, melissa e coentro.

Redução
A destilação sucede a etapa de maceração. O álcool obtido (em torno de 80%) é transferido em um recipiente. É acrescentada água destilada para diminuir o teor de álcool. O absinto produzido por Yves Kübler, por exemplo, tem 53% de álcool.

Repouso
Duas semanas depois da destilação, o absinto é engarrafado e deve “descansar” dois a três meses depois para afinar o sabor.

Modesta mas rentável
Em comparação com outras bebidas, o absinto é um mercado de nicho. Quase 3,2 milhões de garrafas são vendidas por ano no mundo, metade nos Estados Unidos (50 dólares a garrafa).

Aumento
Entre 2004 e 2009, o consumo cresceu aproximadamente 25% por ano.

Pernod-Ricard
O maior produtor do setor é o francês Pernod-Ricard, de Marselha, sul da França. Na França, o absinto é autorizado desde 2001, mas na etiqueta não deve constar o nome absinto e sim “extrato de absinto” ou “álcool à base de plantas de absinto”.

Crise
Em 2008, os destiladores suíços exportaram 824 hectolitros. Em 2009, a crise fez esse volume cair para 110 hectolitros.

(Adaptação: Claudinê Gonçalves)
http://www.swissinfo.ch/

Fernando Namora visto de perto

Fernando Namora pertenceu a uma época em que a cultura dispunha de poder, e a um grupo de intelectuais que tinha como objectivo realizar uma teoria de conjunto da injustiça social.


por Baptista Bastos
26.07.2010

"Se não esqueceres os teus amigos, eles viverão enquanto tu viveres. Não há mortes individuais. Nem vidas." Elias Canetti - "Massa e Poder"

Vou ali à estante. Lá está ele, junto com os seus camaradas de geração. A densa capa do esquecimento tombou sobre ele; mas os seus camaradas, quase todos, não tiveram melhor sorte.
Fernando Namora pertenceu a uma época em que a cultura dispunha de poder, e a um grupo de intelectuais que tinha como objectivo realizar uma teoria de conjunto da injustiça social.

Hoje, talvez se olhe para aquele tempo e se examine aquele projecto com pequenos sorrisos desdenhosos. A ignorância sempre foi pedante e atrevida. E a grandeza daqueles jovens de então media-se pela dimensão do que ambicionavam e pela urgência do que diziam.

Seria, acaso, importante proceder-se à leitura de um antigo texto de Namora, contido numa reedição do belíssimo "Casa da Malta", e talvez se entendesse que a relação, a relação com o outro, é o traço principal identificador da cultura. A cultura como meio de transformação; a cultura como processo de mais uma criação do "outro."

Nesse grupo de escritores, que a definição de "neorealistas" tornou redutora, creio que somente o Fernando Namora não era marxista. Todos os outros o eram, habitualmente sem terem lido Marx, a não ser através dos seus intérpretes: Friedman, Goldman, Lukacs, Lefebvre, Costas Axelos, textos esparsos de Lenine, Staline; alguns artigos de Elio Vittorini, traduzidos, à socapa, da grande revista "Il Politecnico", na qual o romancista de "Os Homens e os Outros" polemizou com Palmiro Togliatti.

De resto, a formação dessa gente fez-se com a argumentação da leitura. A lista de autores americanos, russos, italianos, franceses por eles consumida é impressionante, pelo tamanho e pela diversidade.

Curioso é o facto de o "neorealismo" ter surgido em locais tão separados pela distância como em Coimbra, no Porto, em Santiago de Cacém, Vila Franca de Xira - e nas tertúlias dos cafés de Lisboa.

É o que se convencionou designar de "o ar do tempo", e de uma vontade reconstrutora do mundo e da sociedade. O propósito cabia neste princípio: a cultura da exclusão leva, inevitavelmente, à exclusão da cultura. Portanto, a cultura como mediadora que se não subordinava à razão dominante.

Namora é um dos mais importantes partícipes desse projecto sem programa. Ergue um edifício literário no qual a estética se associa a uma ética muito pessoal: nele, na sua obra, o acto cultural é um compromisso que se não esvazia de um forte conteúdo moral.

Instalando-se em Lisboa, nunca se adaptou às malícias e às artimanhas da cidade. Como Aquilino, sobre o qual escreveu um texto a vários títulos admirável, Fernando Namora nunca deixou de ser um homem do campo com a nostalgia dos grandes silêncios e dos imensos espaços.

Tenho várias fotografias com ele. A mais antiga, eu para aí com vinte anos, no gabinete onde ele trabalhava no Instituto de Oncologia. Fui entrevistá-lo para a revista "Eva", dirigida por uma senhora excepcional, Carolina Homem Christo, e em cuja Redacção escreviam Carlos de Oliveira, Maria Judite de Carvalho, José Cardoso Pires e Rogério de Freitas. A entrevista levava o título de "Retalhos da Vida de um Escritor."

Na imagem, lá estão o seu rosto fechado, o seu sorriso magoado, o seu ar melancólico e, também, o registo da sua bondade, da sua compaixão e da sua generosidade. Não foi um homem feliz. E, no entanto, ele, Ferreira de Castro e Urbano Tavares Rodrigues eram, então, os escritores portugueses mais conhecidos, mais traduzidos, mais admirados e, até, adulados.

A notícia da próxima saída de um livro de Namora causava grande alvoroço. Ocasiões houve em que, antes de sair a público, a primeira edição de alguns dos seus livros (cinco mil, sete mil e quinhentos exemplares) já estavam esgotadas. E há títulos de Namora que constituem importantes documentos literários da vida portuguesa.

O seu impressionante êxito: edições de milhares e milhares de exemplares, traduções constantes, ensaios, estudos exegeses, teses sobre a sua obra, amiudadas vezes requisitado pela Imprensa a fim de depor acerca de este e de aquele assunto; entrevistas, comentários - enfim, essa glória que o envolveu não deixou de causar invejas e ressentimentos.

A vida literária portuguesa não é diferente da vida literária em outros países [leia-se, a título de exemplo, "Écrits Intimes", de Roger Vailland, outro grande esquecido]. E Namora, cuja generosidade e camaradagem eram lendárias, sentia, profundamente, a circunstância. No entanto, jamais deixou de ser amável e cortês, até efusivo, com muitos daqueles que o atropelavam nas tertúlias dos cafés.

Pessoalmente, devo-lhe favores, gentilezas e atenções. Foi ele quem se prestou, sem lho pedir, a falar com o seu editor de então, o Lyon de Castro, da Europa-América, sobre um livro meu "As Palavras dos Outros", cuja primeira edição foi lançada pela constância da sua bela camaradagem.

Ele sabia muito bem das aleivosias, dos destratos de que era objecto. Nem uma vez, nem uma escassa e módica vez, se me queixou. Encontrávamo-nos nos cafés. Tentava animá-lo. Visitava-o em sua casa, na Infante Santo. Já muito doente, fez questão em assistir ao lançamento de um livro meu, "A Colina de Cristal", sobre o qual ainda me enviou uma carta fraterna e generosa.

Agora, tomo de mão o que, num depoimento ao "Diário de Lisboa", sobre a morte dele, disse Agustina Bessa-Luís, como só ela o sabia dizer: "Falta-nos o rio triste do seu olhar."

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