Educação

Universidades estrangeiras têm cada vez mais professores portugueses

por Cláudia Garcia
10.06.2010

Em 2010 há 579 professores portugueses no ensino superior estrangeiro. Mais 131 do que há dois anos. O desafio é ensinar a língua e expandir a cultura

São professores, são portugueses e ensinam a língua de Camões em 294 universidades e institutos superiores espalhados pelos cinco continentes. Este ano lectivo há já 579 portugueses a ensinar no estrangeiro (no ensino superior), um aumento de 131 em relação a 2007/2008.


Cerca de 30 eram catedráticos em Portugal, mas a grande maioria estava no ensino obrigatório nacional, com formação na área de humanidades e uma pós-graduação/mestrado em língua e literatura portuguesa. Alguns candidatos têm no currículo a investigação académica.

O Instituto Camões (IC), tutelado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, é responsável pelo recrutamento de professores para o ensino de língua e cultura portuguesas ao nível do ensino superior e muitos dos pedidos chegam das próprias universidades: "Têm cada vez mais interesse na aprendizagem do português", explicou ao i fonte do IC.

No entanto, as preferências dos candidatos apontam para a Europa - Inglaterra, Itália, França, Espanha e Alemanha. Cada um dos países conta com professores portugueses em mais de 15 universidades.

Sandra Pinheiro (foto), de 29 anos, vive em Salzburgo, na Áustria, desde 2007, mas todas as quintas-feiras faz um pequeno desvio até Augsburg na Alemanha para dar aulas de português na universidade. O resto da semana está em Salzburgo ocupada entre aulas, programa de rádio, curso de compreensão auditiva na internet e "mil e uma" actividades culturais.

Sandra é licenciada em Línguas e Literaturas Clássicas, mas em Portugal, além do estágio no Liceu Camões apenas trabalhou em investigação. Aos 27 anos concorreu e ficou colocada na Áustria. "Era o país que eu queria. Gosto muito de ensinar e sempre tive vontade de ir para fora porque gosto de culturas diferentes." Ao fim de três anos, a professora conseguiu conquistar os alunos, que já falam o idioma e desejam estudar em Portugal. "Todos os anos tenho alunos que querem vir fazer Erasmus para Portugal."

Para poderem melhorar a pronúncia, Sandra propõe um curso de conversação, que é brindado mensalmente num programa, em directo, na rádio. Às quartas-feiras de cada mês, a Radiosadrik oferece música, entrevistas e notícias da comunidade lusófona pela voz dos alunos do curso de conversação.

Do outro lado do Atlântico vive José Pedro Ferreira de 38 anos. Ensina a língua materna no departamento de português e espanhol da Universidade de Toronto, Canadá, desde 2005. Porquê? "Uma experiência que queria ter desde o início da faculdade."

A rede de docência do português abrange todo o continente americano: só nos EUA, no Canadá e no México são 17 universidades, na América Central e do Sul são mais seis. José Pedro assegura que os dois sistemas de ensino - Portugal e Canadá - têm qualidades. Mas admite muitas diferenças: "Nos alunos, professores, currículos, organização e gestão das instituições de ensino." Diferenças que se revelaram ainda mais aliciantes para o professor que se sente privilegiado por "ensinar a língua e a cultura portuguesa numa das melhores universidades do continente americano". Questionado sobre o regresso às origens, responde: "Sem dúvida. O sol e a luz do nosso país não têm preço!"

Do continente americano novamente para a Europa. Este foi o percurso de Catarina Carvalhosa que vive na Suécia há três anos. "Concorri por acaso, uma amiga enviou-me um email com um concurso do IC para a Austrália que me interessou, mas não consegui. Depois fizeram-me uma proposta para a Universidade de Santiago de Chile. Aceitei e foi um ano e meio de muita aprendizagem. Os alunos eram muito interessantes", recorda.

os 37 anos, Catarina encontrou um porto seguro em Estocolmo, onde encara um grande desafio: cativar os suecos para os projectos da cultura de Camões. "A adesão é difícil, porque eles têm uma grande variedade de oferta." Apesar das dificuldades, a professora de Inglês e Alemão que ensina Português, além do mestrado em linguística portuguesa que está a concluir, está muito feliz no norte da Europa, onde fez amigos com facilidade. "Estou a construir a minha vida aqui e não penso em voltar para já."
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