Ensino

Universidades portuguesas apostam em investigação patrocinada por privados

por Marta Cerqueira
15.02.2010

Há universidades portuguesas que estão a lançar cátedras com patrocínios.

A investigação universitária está a ganhar um novo impulso graças a patrocínios privados. A Universidade de Évora foi pioneira e promete continuar na linha da frente. Em parceria com o Banco Espírito Santo (BES), será criada uma cátedra - unidade de investigação centrada na figura de um investigador - dedicada às energias renováveis, dotada de 100 mil euros anuais, para fomentar a investigação científica na área da captação e do armazenamento energético.

A Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) abriu concursos para a celebração de contratos com instituições científicas e instituições de ensino superior universitário. "O objectivo deste programa passa por ajudar as universidades a atrair professores com reputação internacional, sem que para isso tenham de despender quantias demasiado avultadas", explicou ao i o presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

João Semieiro diz que a iniciativa de criação da cátedra pode partir da universidade, que procura um parceiro de investimento, mas também pode ser o professor a procurar apoios para uma investigação, ou mesmo a própria empresa que se autopropõe para apoiar uma cátedra em específico.

É o caso de todas cátedras ainda com localização a definir, que contam com o apoio da empresa. Entre elas estão a Cátedra Alcatel-Lucent Portugal em Tecnologias de Informação e Comunicação ou a Cátedra de Investigação Microsoft em Tecnologias e Comunicação na área da saúde.

Em 2008 foi criada na Universidade de Évora a primeira cátedra financiada por uma empresa em Portugal, a Cátedra Rui Nabeiro para a Biodiversidade, que conta com o nome do fundador do grupo Nabeiro/Delta Cafés. Para Rui Raimundo, administrador da cátedra, o contrato é simples, visto que os dois lados parecem sair beneficiados: "Se por um lado a empresa ganha visibilidade e pode lucrar com a aplicação das tecnologias desenvolvidas durante a investigação, por outro, a universidade tem mais patrocínios para desenvolver pesquisas inovadoras e pode inclusive contratar investigadores de renome na área", explicou ao i.

As actividades da Cátedra Rui Nabeiro são orientadas por Miguel Bastos Araújo, um dos nomes mais prestigiados na área da Ecologia e Ambiente em Portugal, e assentam em três pilares: promoção da investigação em biodiversidade e alterações globais, formação avançada em ecologia, ambiente e evolução, e divulgação junto dos estudantes e do grande público.

Paulo Monteiro, docente da Universidade de Aveiro e responsável pela cátedra Nokia-Siemens em Telecomunicações adianta ao i que a escolha dos temas para as cátedras se relaciona também com o interesse da empresa que patrocina. "O tema é selecionado aliando as características da instituição que apoia a cátedra com as competências que a universidade já mostrou ter na área das telecomunicações", explicou o docente.

O exemplo da Universidade de Évora e de Aveiro está a ser seguido por instituições de ensino superior de todo o país. As universidades do Algarve, Madeira, Porto e a Universidade Católica têm já agendado o início de cátedras, com a biodiversidade e as energias renováveis a dominarem os temas escolhidos.
Neste momento ainda está aberto o concurso - público e a nível internacional - para a escolha do docente que vai liderar a cátedra.

Investimento
Existem parcelas de investimento definidas: 25% para a FCT e 75% para a empresa, embora sejam estabelecidos dois tipos de cátedras. A cátedra júnior destina-se a trazer jovens que tenham mostrado talento invulgar numa determinada área. Neste caso, a comparticipação da fundação pode ir até 40 mil euros por ano, sendo que a cátedra terá um custo de 160 mil euros. Se for um sénior a liderar a cátedra, a comparticipação da fundação pode ir até 60 mil euros - com um custo total de 240 mil euros.
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com Agência Lusa