Fado New Age
Aldina Duarte - Uma coreografia do som ou apenas uma proposta musical

por Sílvia Caneco
16.07.2010

A proposta é, no mínimo, improvável. Aldina Duarte sobe ao palco do São Luiz para interpretar 12 fados - a maioria do seu último álbum, "Mulheres ao Espelho".
Mas esqueça tudo o que já ouviu em concertos de fadistas. Aqui, a promessa é outra. Além dos instrumentos clássicos do fado, como a viola e a guitarra portuguesa, Aldina Duarte será acompanhada pelo piano, contrabaixo, acordeão, percussão e harpa.

As palmas só se ouvem no final porque não há paragens - quando um instrumento sai, já outro entrou. E como se isto não bastasse para uma proposta diferente, a direcção do concerto está a cargo de Olga Roriz, bailarina e coreógrafa. Ingredientes mais do que suficientes para ouvir fado como nunca o ouviu.

A ideia partiu de Aldina Duarte. "Se a alma é corpo e se os meus fados estão cheios de alma, estão também cheios de corpo." A associação alma-fado-corpo foi o pressuposto para chamar o corpo a intervir no espectáculo que termina amanhã no São Luiz, integrado no Festival de Almada. E quem melhor para trabalhar o corpo do que uma coreógrafa?

A cantora pediu a Jorge Salavisa - director daquele teatro municipal e ex-coreógrafo - sugestões de nomes da dança que pudessem trabalhar um concerto. Não foi preciso deitar papéis com nomes num saco e sacudi-lo para escolher. A sugestão foi imediata: Olga Roriz. Mas Aldina Duarte não acreditava num "sim" da coreógrafa. "A Aldina ficou assustada. Achou que nunca iria aceitar fazer um trabalho destes", lembra Olga Roriz.

O projecto começou a tomar forma em maio de 2009. Ao dirigir o espectáculo, o que coube à coreógrafa não foi fazer fado dançado, mas antes o que ela apelida de "coreografia do som".

Não há dança, não há coreografias de movimentos. O que há é uma proposta musical. "Escolhi os fados e os instrumentos para cada fado. Depois há uma linha dramatúrgica que impus pelo alinhamento e pelo diálogo que cada fado tem com cada instrumento", explica a coreógrafa.

No concerto em que não há um segundo sequer de paragem entre músicas - quando termina uma canção, já um outro instrumento começou a tocar - até a voz de Aldina Duarte vai soar diferente.

"Estamos a trazer para o fado sonoridades diferentes. Nunca antes se tinha ouvido uma harpa num fado, por exemplo", explica Roriz. "Isso muda as maneiras de interpretar estes fados e o diálogo que a voz estabelece com eles."

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