Warhol TV: muito mais do que 15 minutos de fama

por Diana Garrido
24.07.2010

A exposição "Warhol TV", que inaugura segunda-feira no Museu Berardo, mostra um outro lado de Warhol. Sem latas de sopa de tomate nem Marilyn colorida. Só ecrãs de televisão

"Diga aos seus leitores que esta é uma exposição cool. Tem de ser vista com calma e tempo. É para se sentarem no sofá e verem tudo com atenção." Judith Benhamou, comissária da exposição, deixa o aviso e nós corroboramos: não vale a pena ir com pressa. "Warhol TV", que inaugura segunda-feira no Museu Berardo, no CCB, mostra um lado de Andy Warhol que poucos conhecem. É que entre as décadas de 70 e 80, o artista plástico mais famoso dos EUA dedicou-se à criação e realização de programas de televisão.

Beleza, vaidade, sexo, talentos, processos de criação, eventos sociais, transformação. Cada sala tem um tema, ecrãs e sofás. Ao fundo, uma imagem em loop de Warhol a correr na direção dos visitantes. Para montar esta exposição, Judith Benhamou mergulhou de cabeça nos arquivos do Museu Andy Warhol, em Pittsburgh, e nas memórias dos (poucos) colaboradores sobreviventes do artista.

Nas suas investigações descobriu verdadeiras pérolas, como um anúncio da Coca-Cola light: "Andy Warhol fazia tudo, não tinha preconceitos. Ele estava apostado em construir um império económico e conseguiu." O resultado é um anúncio piroso, com Warhol inexpressivo, no meio de gente feliz, a beber Coca-Cola.

Numa outra sala, fechada em cortinas de veludo vermelho escuro, outra preciosidade: um episódio da série "Barco do Amor" onde Andy Warhol aparece como convidado. "Ele é péssimo a representar! Falei com o produtor da série e ele disse que trabalhar com ele foi um verdadeiro pesadelo, nunca sabia os textos, nem o que fazer", conta Benhamou.

Na exposição pode ver-se também excertos do último "Andy Warhol's 15 Minutes", o programa da MTV criado e apresentado por si, com um último episódio inteiramente dedicado a Warhol, aquando da sua morte, com imagens do seu funeral. No entanto, esta não será a última imagem que irá ver: "Não queria que a exposição acabasse de forma triste", explica a comissária. Assim, a última obra a ser exibida é um videoclip que Warhol fez para os "The Cars".

Cinema
O que esta exposição não mostra - já que se concentrou apenas nas criações televisivas de Warhol - é o lado cinematográfico, obscuro e artístico de Warhol. Começaram por ser horas de imagens gravadas de pessoas a fazer coisas tão simples como dormir ("Sleep", 63), beijar ("Kiss", 63/64), a cortar o cabelo ("Haircut", 63) ou a ter sexo oral ("Blowjob", 64).

Warhol gostava de ver, sem interferir. Era o oposto de um realizador, já que com os seus filmes não tentava mostrar a sua visão: ele era um voyeur e a câmara os seus olhos. As imagens eram gravadas a preto e branco e depois exibidas em slow motion. Mais tarde, os seus filmes passaram a ter guiões. "Chelsea Girls" e "Couch" são exemplos disso. Guiões loucos que raramente passavam de indicações de acção e eventuais diálogos.

Os actores eram todos os que gravitavam em redor de Warhol. Os proscritos da sociedade, travestis, drogados, deprimidos e aspirantes a artistas, que encontravam em "The Factory" o ateliê de Andy, uma espécie de casa. Havia drogas e sexo para todos e Warhol alimentava a sua carreira com os impulsos mais negros dos outros.

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