Livro

"Dalí era um génio, masturbador e falsificador"

por Vanda Marques
22.07.2010

Metade dos quadros do mestre são falsos e Stan Lauryssens denuncia tudo em "Dalí e Eu". O livro vai ao cinema e Pacino será Dalí

Salvador Dalí, nome maior do surrealismo, fez da própria vida uma história surreal. Usava um colete à prova de bala "porque Gandhi e Kennedy foram mortos a tiro", fazia orgias como quem bebe um café, vivia como um multimilionário e referia-se a si próprio na terceira pessoa: "Tudo o que Dalí toca transforma-se em ouro", costumava dizer.

Nos últimos anos, as suas excentricidades eram tantas que passou a autorizar a venda de quadros falsificados. Tinha vários assistentes a fazer o trabalho por si, enquanto dava festas e ia a banhos com Brigitte Bardot, Sophia Loren, Paul Newman ou Freddie Mercury. Assinava folhas em branco, nos intervalos da masturbação ou das brincadeiras com dildos com caras de figuras mundiais como Fidel Castro, Hitler ou Madre Teresa.

As acusações de Stan Lauryssens, negociante de arte belga que esteve preso por vender falsificações, continuam. Metade das obras do mestre espanhol são falsas. No Museu Salvador Dalí, em Miami, nos Estados Unidos, por exemplo, todos os grandes quadros foram pintados por Isidro Bea, garante ao i Stan.

O ajudante de Dalí foi o verdadeiro Dalí durante quase 30 anos. Depois de fazer estas revelações no livro "Dalí e Eu - uma história surreal" (editado em 2008 e agora traduzido para português) a Fundação Dalí emitiu um comunicado onde garantia que o livro não tinha a menor credibilidade. "Durante três anos, disseram que me iam processar, mas ainda não fizeram nada. Eles querem passar a imagem de que Salvador Dalí era um santo. Mas não era, ele era um génio, um masturbador e um falsificador", explica por email ao i o autor.

Stan Lauryssens, de 63 anos, falou com amantes de Dalí e várias pessoas que trabalharam com o pintor. Michael Ward Stout, o advogado norte-americano do artista, foi um deles e contou-lhe que o mestre do surrealismo ganhou meio milhão a assinar folhas em branco. "Chegou ao ponto de despachar uma folha de dois em dois segundos."

Gala, a esbanjadora
O negócio das falsificações terá começado nos anos 70, defende Stan Lauryssens que conheceu Dalí quando ele estava já muito doente, preso a uma cadeira de rodas. "Ele precisava de dinheiro. Nos anos 60, Dalí tinha 70 milhões de dólares, contou-me o seu secretário particular, Captain Moore. Quando morreu, 25 anos depois, não tinha um tostão. Gala perdeu tudo no Casino de Monte Carlo. Ele ganhava o dinheiro, ela gastava-o."

Stan Lauryssens também enriqueceu graças a Dalí, mas iniciou-se na arte de enganar muito antes de vender quadros. O belga era jornalista freelancer, até que arranjou um trabalho na "Panorama". A revista prometia-lhe um lugar de correspondente em Hollywood, o que acabou por ser uma secretária em Antuérpia, recortes de jornais e muita imaginação.

Stan Lauryssens inventava entrevistas com as estrelas, como Robert Redford ou Paul Newman. Mas foi quando "entrevistou" Dalí que um negociante de arte lhe propôs ser fornecedor de arte aos clientes mais ricos.

"Não sabia nada de arte. Tentei vender Picasso e Chagall mas não resultou. Quando contava as histórias de Dalí, que pediu ao Vaticano autorização para o filmarem a ser pregado no tecto da Capela Sistina como Cristo, os clientes interessavam-se. Vender Dalí era fácil. Como os verdadeiros eram caros, vendia os falsos. Era uma espécie de Robin dos Bosques: tirava dos ricos e em vez de dar aos pobres ficava com o dinheiro para mim’.
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