"Pai... já fumaste droga?"

por Perri Klass

26.07.2010

Especialistas sugerem honestidade se a pergunta surgir. E se acha que foi um erro, não o esconda

Há anos, quando era médica residente em pediatria, um adolescente perguntou-me se já tinha fumado erva. Não era uma pergunta amigável, mas antes uma reacção do tipo "ah, sim, isso é o que tu dizes" às minhas questões, como que a avisar-me.

Nenhum doente me perguntou tal coisa em décadas. Mas, recentemente, dei por mim no meio de várias conversas entre pediatras sobre como os pais devem lidar com as perguntas sobre o assunto. Médicos e pais precisam de uma forma de integrar os seus padrões de honestidade com o que sabemos sobre o abuso de drogas - e com investigações que tornam claro que sabemos hoje mais sobre o assunto.

Em particular, os cientistas compreendem melhor a neurobiologia do cérebro adolescente e os riscos de experimentar drogas e álcool na adolescência. Embora pensássemos que o cérebro era relativamente maduro aos 16/18 anos, na realidade continua a desenvolver-se até aos 25.

O que se desenvolve cedo é a área de procura do prazer, o núcleo acumbente. As regiões que auxiliam o raciocínio abstracto, a tomada de decisões e a capacidade de julgamento estão ainda a amadurecer e, logo, com menos inclinação para inibir a procura de prazer.


Pelo que as drogas e o álcool podem, de facto, levar a alterações permanentes no cérebro - em particular, dizem especialistas, uma maior propensão para a dependência em adulto. No entanto, dar conselhos a jovens nunca foi fácil, e quando a história dos pais vem à baila, fica ainda mais complicado.

Há uma questão moral para os adultos que se orgulham da honestidade e abertura. Há o medo de que, mesmo se explicarmos cuidadosamente a lição da nossa história, possamos estar a oferecer ao nosso filho uma lição implícita acerca da falta de consequências, uma espécie de parábola de eu fiz isso e estou bem.

"O problema vem sempre à baila quando dou conselhos aos pais", diz Sharon Levy, directora do programa de abuso adolescente de substâncias no Children's Hospital Boston. "Eles dizem 'bem, o que lhe devo dizer - ou não?'" A investigação é limitada.


Mas há provas que sugerem que quando os pais prestam mais informação e dão melhores conselhos desde cedo, o risco de abuso é menor. E um estudo de 2009 do centro Hazelden para o tratamento da dependência, concluiu que muitos adolescentes apontavam a honestidade dos pais acerca do álcool como influência positiva.

É claro que todos os pais, crianças e todas as situações são diferentes, e não existe uma regra que diz que pais e médicos devem revelar qualquer informação particular sobre o seu consumo de álcool e drogas, passadas ou actuais.


Em vez disso, é importante perceber "porque é que perguntas? O que se passa contigo?", diz Janet F. Williams, professora de pediatria no Health Center da Universidade do Texas, e directora do comité para o abuso de substâncias da Academia de Pediatria.

"O que nós pensamos que eles querem saber pode não ser aquilo que eles estão a perguntar", afirma. E, tal como sucede com outras conversas, tenha em conta o estado de desenvolvimento da criança; a resposta a uma criança de 12 anos ou a quem tem 22 anos é dada em termos e detalhes diferentes.

Porém, a maioria dos especialistas concorda que quando uma criança faz uma pergunta, o melhor é não mentir. "Diga sem glorificar", aconselha Levy, "e se acha que cometeu um erro, diga isso."

Na realidade, uma criança que faz esta pergunta pode ter pensado muito em como e quando puxar do assunto. Trate a questão com respeito, utilize-a para fazer a conversa fluir. Pode não ser uma questão que queira ver levantada mas é uma conversa que, como pai, deve encorajar. (Sites úteis:teens.drugabuse.gov - informação para adolescentes; e teen-safe.org - conselhos sobre como falar com adolescentes.)

Então e o pesadelo familiar de todos os pais: o adolescente zangado que reage à disciplina ou à reprovação virando a conversa com uma acusação sobre as transgressões dos pais? Deborah Simkin, psiquiatra que faz a ligação ao comité Williams da Academia Americana de Psiquiatria Infantil e Adolescente, faz a analogia com um alcoólico que resiste ao tratamento tentando trazer à baila os problemas dos outros. "O miúdo está a tentar desviar a atenção da intervenção oportuna por parte dos pais", diz. Em tais casos, a resposta dos pais deve ser clara: "Vamos discutir o que tu fizeste."

O que queremos fazer como pais é transmitir sabedoria - mesmo que a tenhamos adquirido da maneira mais dura - sem que os filhos tenham de correr riscos. "Conduziu sem cinto de segurança e não morreu num acidente. Isso significa que quer que o seu filho conduza sem cinto?", pergunta Levy.


Ou como diz Williams: "Se a forma como a questão é apresentada é 'Isto é arriscado e espero que não tenhas de colocar a mão no lume para descobrir que te podes queimar', eles não têm de tomar o mesmo risco." Por fim, depois de todos os cuidados e ansiedades, é essencial voltar ao lado positivo - "lembre-se sempre de reparar no que há de bom no seu filho", aconselha Williams.

Afinal de contas, a mensagem mais importante não é sobre os erros que podem fazer descarrilar mas sim sobre o prazer de encontrar o próprio caminho. Diga ao seu filho, nas palavras de Simkin, que "preferiria que te dedicasses a descobrir a tua paixão, descobrir o que queres fazer na vida" - e celebrar esse potencial. E, por isso, diz Williams, "gostaria que tivessem todas as células cerebrais a que têm direito."
http://www.ionline.pt/
The New York Times