Fotografia

A primeira exposição póstuma de Cartier-Bresson

por Agência Lusa
13.04.2010


A retrospetiva do Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova Iorque de Cartier-Bresson é uma panorâmica dos estilos e lugares marcantes do fotógrafo francês

"Henri Cartier-Bresson: O Século Moderno", aberta esta semana, compreende obras de 1929 a 1989, um quinto das quais nunca antes mostradas ao grande público.
À entrada, vários mapas de perto de três metros de altura mostram os itinerários do fotógrafo francês na Europa, na Ásia ou na América do Norte.

Num gigantesco mapa da Península Ibérica pode seguir-se o traçado circular da viagem de 1955 por Portugal: Lisboa, Cascais-Estoril, Sintra, Óbidos, Nazaré, Coimbra, Porto, Amarante, Lamego, Tomar, Alpalhão, Castelo de Vide, Marvão e Estremoz.

Logo nas primeiras seções, entre fotos das viagens por Espanha ou Itália, o visitante encontra um grupo de pescadores cerzindo redes no areal da praia da Nazaré, tendo ao fundo um barco de pesca encoberto pela neblina.

"Tentamos mostrar de uma forma coerente a carreira inteira dele. Isto articula-se com uma visão global que vai da revolução industrial até ao mundo moderno, onde os efeitos do comércio e tecnologia estão em todo o lado. Acho que nunca se fez isso", disse à Lusa Peter Galassi.

A exposição está organizada em 13 secções, que vão desde os primeiros trabalhos de inspiração surrealista na década de 30, com uma máquina Leica, até às explorações feitas pelo fotógrafo por aspetos da sociedade moderna como a mecanização, comércio, consumismo e lazer, passando pelos retratos, de Simone de Beauvoir a Truman Capote.

A fase do fotojornalismo, após a II Guerra Mundial, está representada em "ensaios fotográficos" sobre a revolução cultural chinesa, "Americanos" ou o escritório da Bankers Trust Company, na Nova Iorque na década de 50.

"Há uma grande componente de trabalho menos familiar em toda a exposição, mas diria que metade das fotos da secção Estados Unidos são completamente desconhecidas", afirma Peter Galassi.

"A última coisa que esperava quando comecei a trabalhar neste projeto e que se pode observar é uma mudança de estilo. Enquanto no pós-guerra há fotos com 3 a 5 pessoas, bem enquadradas e claramente descritas (...) mais tarde, algumas tornaram-se mais complexas", adianta.
Exemplo, afirma, são as de índios americanos em Gallup, Novo México, numa das quais podem ver-se duas ou três mulheres olhando uma montra, mas também os seus reflexos no vidro e o interior da loja.

"Creio que parte do que desenvolveu esse estilo foi a resposta dele a esta desordem do mundo contemporâneo", afirma.

Primeiro museu onde o fotógrafo francês expôs, em 47, o MoMa é também pioneiro em retrospetivas póstumas de Cartier- Bresson, falecido em 2004.
O "regresso", mais de 30 anos depois da última grande exposição (79), está patente até 28 de junho.

(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)
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