O mecenato está em declínio e a política esquece a cultura

por Francesco Alberoni
sociólogo e jornalista
27.07.2010

Há umas décadas, o mecenato era obra de industriais e comerciantes bem-sucedidos. Hoje as empresas estão entregues a tecnocratas que não conhecem o valor da cultura

Até há não muito tempo, a única maneira de alguém ficar verdadeiramente rico era tornar-se empresário industrial. Muitos partiram do zero e, pouco a pouco, criaram empresas próprias, inventando os produtos, a maquinaria e o sistema de distribuição em conjunto com os seus colaboradores, técnicos e operários. Em seguida inundavam o ambiente social que os rodeava, imprimindo-lhe o próprio andamento.

Por vezes reuniam em torno de si cientistas, artistas, escritores e criavam prémios literários. Nomes como Agnelli, Mattei, Ferrari, Ferrero, Barilla, Marzotto, Ratti, Merloni, Pirelli, Mondadori, Trussardi, Della Valle, Rizzoli, Benetton, Borletti, Zegna e Armani são evocativos de gigantescos complexos industriais, fantásticos palácios, fundações, iniciativas culturais e colecções de arte maravilhosas.

Já hoje em dia a riqueza advém cada vez mais da incursão no sector financeiro ou do êxito desportivo ou televisivo. Muitas empresas há que são dirigidas por um gestor que salta de firma em firma e de país em país, não se interessando grandemente por criar uma sede elegante, uma rede de relações humanas estáveis ou uma comunidade de artistas. Muitas vezes, se não tem gosto próprio, contrata o arquitecto mais famoso que consegue. Para a publicidade recorre a uma agência, para congressos e seminários confia nos pivôs televisivos mais conhecidos.

O mecenato, que nascia do encontro pessoal entre empresários e homens da cultura, está em declínio. Hoje em dia, a alta cultura é financiada essencialmente pelo Estado ou pela administração pública. Mas até os políticos deixaram de ter o saber de antigamente e, absorvidos pelas extenuantes batalhas verbais, trabalham para os resultados eleitorais imediatos. Não dialogam, não fazem projectos a longo prazo nem criam instituições culturais de grande fôlego.

Todavia, para que um país cresça, tem de construir uma relação humana estreita entre o meio político, o tecido empresarial e a alta cultura. Para dar um passo nessa direcção, é preciso que os políticos reservem algum tempo para procurarem e depois confiarem a criação e a gestão de instituições culturais a homens de alta cultura, que sejam simultaneamente grandes dirigentes e grandes gestores.

Não bastam gestores de pura formação económica, não bastam os militantes ou filiados. Os políticos devem voltar-se para pessoas com uma formação profunda, dotadas de um verdadeiro saber e de uma moral de uma qualidade capaz de lhes dar as condições para julgarem e escolherem. Eis um desafio importante para a classe política de hoje e de amanhã.
http://www.ionline.pt/