Opinião

Língua portuguesa, inovação e o futuro

por Gonçalo de Sampaio *
30.07.2010

Temos de nos unir em defesa da língua portuguesa, agora em vias de ser desprezada pelos burocratas de Bruxelas como língua tecnológica

Em recentes intervenções públicas, em Portugal e no estrangeiro, o Presidente da República, mais uma vez, e de forma muito vincada e oportuna, apelou à defesa e à projecção da língua portuguesa, reforçando o apelo à sua valorização e promoção como língua global.

A língua portuguesa, a quinta língua mais falada em todo o mundo, com cerca de 250 milhões de falantes, é hoje um valor imaterial que importa preservar e desenvolver, não se podendo desperdiçar todo o seu enorme potencial.

Contudo, na defesa da nossa língua - como aliás em tudo - a palavra não basta. São precisas realizações concretas.

Nos últimos tempos muito se tem falado da importância económica da inovação. Mas, além de inovar, importa proteger essa inovação, ganhando assim um exclusivo que permita alicerçar o retorno do investimento realizado.

Um sistema eficaz de direitos de propriedade industrial (marcas e patentes) é fundamental para o sucesso da inovação e o desenvolvimento tecnológico do país.

O conhecimento do que já está inventado é o primeiro passo para se poder inovar. Esta é a grande vantagem de a lei exigir que todas as patentes em vigor em Portugal sejam traduzidas em português, permitindo o acesso sem qualquer custo e na nossa língua a toda a informação que consideremos útil para iniciar um processo de inovação.

Actualmente assiste-se, no contexto comunitário e europeu, a mais um ataque a algumas línguas nacionais.

De facto, quer com o denominado "Acordo de Londres para aplicação do Artigo 65 da Convenção da Patente Europeia", quer no mais recente projecto da Comissão Europeia para a criação de uma patente da União Europeia, prevê-se a eliminação da exigência de tradução em português dos textos dessas patentes, devendo Portugal adoptar como sua a língua alemã, Francesa ou Inglesa!

Estes projectos, além de aumentarem o fosso entre os países mais desenvolvidos e aqueles que, como Portugal, procuram recuperar o tempo perdido, representam um ataque à língua portuguesa, impedindo a afirmação desta enquanto língua tecnológica.

Aos actuais responsáveis exige-se o mesmo esforço e a mesma capacidade que até hoje Portugal teve na defesa das empresas nacionais e da nossa língua, também no campo da inovação.

A defesa da língua portuguesa não se compadece com tibiezas ou circunstancialismos.

Porque o que está em causa é o papel que queremos que a língua portuguesa tenha na área da inovação e enquanto língua tecnológica e de futuro.

Porque é nosso dever, perante a nossa história e os 250 milhões de falantes de português.

* Gonçalo de Sampaio é agente oficial da Propriedade Industrial e
Secretário-geral da Associação dos Consultores em Propriedade Industrial

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