Música
Cuca Roseta


Do rock ao fado com paragem no supermercado


por André Rito

10.07.2010


Fez parte dos Toranja, gravou um anúncio que virou febre nacional e é a nova estrela do fado

Na casa da família de Cuca Roseta fado foi coisa que nunca vingou. O pai ouvia apenas durante a universidade, a mãe não gostava e ela achava que era "música de velhinhas desafinadas". Até ao dia em que decidiu participar num concurso de fadistas. "Por piada", recorda.

A brincadeira acabou por lhe correr bem: abandonou os Toranja, banda que ajudou a fundar com Tiago Bettencourt, e começou a actuar nas casas de fado da capital. Há três anos, o produtor argentino Gustavo Santaolalla viu-a cantar e convidou-a para gravar um disco. Simples.

"Nem sequer era a minha noite. Por sorte, tinha ido substituir uma colega, quando apareceu o Gustavo. Surgiu do nada, chegou ao pé de mim e disse que queria gravar um disco comigo. Não fazia a mínima ideia de quem ele era." Nas mesas o burburinho rapidamente passou a falatório: "'Não sabes quem é? É o Santaolalla.' Eu ficava na mesma. Só depois percebi que era um produtor argentino, com bandas sonoras premiadas e uma carreira de sucesso."

Depois dessa noite a vida de Cuca Roseta - que garante nunca ter pensado em fazer carreira - não voltou a ser a mesma: além das casas de fado, começou a actuar no estrangeiro e abandonou completamente a ideia de ser psicóloga. "Disse-me para esquecer o trabalho, queria que me concentrasse apenas no fado e numa carreira internacional." O disco, com cinco fados tradicionais e outros tantos originais, foi gravado em Portugal e conta com algumas letras de Cuca. "Sempre gostei de escrever prosa. Descobri a poesia com o fado."

Janeiro a janeiro
Cuca Roseta começou a cantar no coro da igreja dos Salesianos, em São João do Estoril, onde foi colega do líder dos Toranja. Fez segundas vozes no primeiro disco da banda, "Esquissos", passou pelo rock, e ouviu muita "música de gajas". "Michael Bublé, por exemplo. Era o que vinha agora a ouvir no carro", confessa.

No ano passado, a fadista de 27 anos trocou novamente as voltas à carreira, depois de uma amiga lhe ligar para cantar num anúncio publicitário a um supermercado. "Foi engraçado porque era um anúncio normalíssimo que se tornou um fenómeno. Pensei que fosse uma coisa mais discreta. Hoje não consigo ouvir, mudo de canal sempre que passa na televisão."

Actualmente, Cuca canta três vezes por semana no Clube de Fado, em Lisboa. "É muito frequentado por estrangeiros, o que não deixa de ser interessante já que a maioria não compreende. Costumam dizer-me que não percebem nada do que digo, mas que sentem a música. É isso que torna o fado especial."
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