Paul Klee


Museu em homenagem a Paul Klee é inaugurado em Berna
O Centro Paul Klee tem a difícil tarefa de explicar um pintor que preparou o terreno para a arte moderna, mas que considerava, ele próprio, incompreensível.

Klee não é apenas difícil de ser entendido como artista, mas também como pessoa. Apesar de ter tido nacionalidade alemã, é considerado um pintor suíço. Se, de um lado, levava uma vida boêmia, de outro, vivia como um pequeno-burguês.

Apresentamos uma viagem
através da vida,
tempo e obra de Paul Klee

Roteiro
Um homem "made in Switzerland"
Paul Klee (1879-1940) permaneceu cidadão alemão até a sua morte, mesmo sendo completamente "made in Switzerland".

Um bernês, mas não um artista suíço
Paul Klee faleceu antes de conseguir ser naturalizado suíço. Possivelmente graças a isso, o seu espólio ficou intacto na capital suíça.

Na pista do avô
O único neto de Paul Klee, Alexander Klee, nasceu na Bulgária em 1940, ano da morte de seu avô.

Paul Klee e Bauhaus
Quando Paul Klee assumiu suas atividades como professor na Escola Bauhaus em Weimar, em janeiro de 1921, ele já era um renomado pintor da vanguarda artística da época.

Um romântico racional
No catálogo de sua primeira grande exposição individual, em 1914, Paul Klee define o seu estilo como "Romantismo frio".

As cores dos olhos e da alma
Um dos elementos mais importantes na obra de Paul Klee é a cor. No início, ele lidava com as cores apenas sob uma perspectiva teórica. Mais tarde, porém, ele descobriu também a qualidade emocional das cores.

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Paul Klee permaneceu cidadão alemão até a sua morte, mesmo sendo completamente "made in Switzerland". Ele nasceu e cresceu no cantão de Berna, na Suíça, para onde retornou assim que o regime nazista assumiu o poder e o proibiu de exercer o cargo de professor catedrático na Alemanha.

Klee nasceu a 18 de dezembro de 1879 em Münchenbuchsee, na região de Berna. Sua mãe, Ida Frick, era suíça, e seu pai, Hans Klee, era alemão. Paul tinha uma irmã três anos mais velha do que ele. Como filho de pai alemão, sua nacionalidade permaneceu alemã.

Artista precoce
Reza a lenda que sua avó materna, suíça, foi quem o encaminhou às artes ao lhe dar de presente, aos três anos de idade, papel e lápis de cor. O próprio Klee afirmaria mais tarde que a sua viagem pelo mundo das artes começou nos seus primeiros anos de vida. Ele chegou a catalogar alguns desenhos da sua infância entre as suas obras.

O jovem Klee observava atentamente o mundo ao seu redor, pintava paisagens bernenses e carregava consigo um caderno de rascunhos quando ia visitar parentes ou quando viajava com seu pai pela Suíça.

Quando não estava desenhando, tocando violino ou escrevendo poemas, Klee freqüentava o ginásio no centro da cidade de Berna. Longe de ser um aluno exemplar, Klee passou nos exames finais, em 1898, com a nota mínima.

Mais tarde, escreveria em seu diário: "Eu queria abandonar os estudos no penúltimo ano, mas meus pais não permitiram. Eu me sentia como um mártir. Só gostava de fazer coisas que não eram permitidas na escola: desenhar e escrever."

Seus pais tinham a esperança de que ele se tornasse músico, mas Paul tinha outros planos. Dois meses depois do exame de madureza, Paul deixou a sua cidade natal para estudar desenho em uma escola particular em Munique, na Alemanha.

A volta
Klee permaneceu quatro anos no exterior. Neste período, sua vida mudou radicalmente. Ele concluiu seus estudos de Belas Artes, conheceu aquela que seria sua futura esposa, noivou e viajou pela primeira vez para a Itália.

Em 1902, ele retornou a Berna, voltando a morar na casa de seus pais. Para se sustentar, ele dava concertos como violinista e escrevia crítica de peças de teatro para jornais. Também desenhava muito neste período.

Entre 1903 e 1905, Klee deu dois passos importantíssimos para o seu desenvolvimento artístico. Primeiro, passou a fazer estudos em cobre, criando um ciclo de 11 gravuras.

Segundo, ele desenvolveu uma nova técnica, na qual desenhava com agulha sobre um pedaço de vidro preto de fuligem. Com esta técnica realizou quase 60 desenhos.

Um ano mais tarde, Klee deixava a Suíça pela segunda vez. Casa-se com a pianista Lily Stumpf, alemã de Munique, e passa a viver com ela na capital da Baviera.

Mas ele nunca abandonou Berna completamente. Depois do nascimento de seu filho Felix, em 1907, Klee passava vários meses por ano com o filho na casa de seus pais, enquanto Lily dava aulas de piano em Munique, para ajudar no sustento da família.

As cartas de Paul deste período mostram que ele gostava de estar em Berna. Seus pais cuidavam do pequeno Felix, e assim ele conseguia se dedicar inteiramente ao trabalho.

Outra volta ao lar
Depois de quase 30 anos no exterior, Klee retorna à Suíça em dezembro de 1933, mas desta vez não exatamente de livre e espontânea vontade. Os nazistas tinham assumido o poder na Alemanha e não havia mais futuro para Klee por lá.

Klee, que nessa época já era um artista de renome e ganhava bem com a venda de suas obras e seu salário de professor catedrático, passou, de uma hora para outra, a ser considerado indesejável na Alemanha.

Os nazistas o classificaram de “artista degenerado" e retiraram todas as suas obras dos acervos públicos da Alemanha. Paul e sua família fugiram para a casa dos seus pais, na Suíça.

Sem o ambiente artístico, a boemia e o estímulo intelectual a que estava acostumado, Klee sentia-se muito isolado na provinciana Berna.

Passados alguns meses, Klee e Lily mudaram-se para um apartamento na rua Kistlerweg, no arborizado bairro de Elfenau. Em dias de céu claro, eles podiam ver os picos dos Alpes da varanda de seu apartamento.

Uma sala do apartamento era chamada de “sala de música da Lily", outra de “ateliê de Paul". Nos poucos anos de vida que lhe restavam, Klee realizou, nesse apartamento, mais de 2700 obras.

Neste período, Klee tentou várias vezes obter a cidadania suíça, mas sempre em vão. Na primeira vez que a cidadania lhe foi negada, alegaram que ele não satisfazia os critérios de permissão de domicílio. Ele não chegou a ver o fim do segundo processo de naturalização.

Doença e Morte
Problemas de saúde somavam-se ao seu sentimento de isolamento. Com fortes dores de estômago, Klee perdia muito peso e sofria de dermatosclerose, uma doença das fibras colágenas da derme que endurece a pele e reduz a sua flexibilidade e mobilidade. No final da vida, ele mal conseguia engolir os alimentos e sofria de incontinência uninária.

Os médicos da época não conseguiram diagnosticar a sua doença. Hoje sabe-se que Klee sofria de esclerodermia, uma doença auto-imune incurável.

Após o seu retorno a Berna, em 1933, Klee esteve internado em diversos sanatórios e veio a falecer a 29 de junho de 1940 em uma clínica em Locarno-Murano, no cantão do Ticino.

Com isso, o seu processo de naturalização, cuja audiência já estava marcada, caducou.

Sua mulher, Lily, conservou a urna com as cinzas de Klee no seu ateliê, no apartamento da rua Kistlerweg, até a sua morte, em 1946.

Um bernês, mas não um artista suíço
Paul Klee faleceu antes de conseguir ser naturalizado suíço. Possivelmente graças a isso, o seu espólio ficou intacto na capital suíça. A venda das obras de Klee pelos seus descendenttes foi impedida por quatro dos seus colecionadores de Berna através da compra do acervo. O fato de Berna ter protelado a naturalização de Klee até ele morrer é, ainda hoje, alvo de críticas.


O Centro Paul Klee, inaugurado no dia 20 de junho na zona leste da cidade de Berna, representa "uma oportunidade única de resgatar a dívida da cidade para com Klee e sua família", afirma o ex-prefeito de Berna Klaus Baumgartner. Por outro lado, um centro como esse ficaria praticamente inviabilizado se Klee tivesse se naturalizado em vida.

Indesejável na Alemanha nazista
Após assumir o poder na Alemanha, em 1933, o partido nazista passou imediatamente a perseguir os representantes da arte moderna. O apartamento de Paul Klee em Dessau foi revistado pela polícia e pela SA.


Em seguida, os nazistas proibiram os pintores „degenerados" de trabalhar e suspenderam Klee de seu cargo de professor da Academia de Artes em Düsseldorf. A 23 de dezembro de 1933, Klee partiu com sua mulher para o exílio, de volta para Berna.

Exílio na terra natal
Embora Klee tenha nascido em Berna, estudado nessa cidade e aí esteja enterrado, seu pai, alemão, nunca se naturalizou suíço. Por esse motivo, o retorno de Klee à sua terra natal foi na condição de imigrante.

Logo após a sua chegada, na primavera de 1934, Klee entra com um pedido de naturalização, que lhe é negado por causa do Acordo de Berlim, de 4 de maio de 1933. Segundo esse acordo, cidadãos alemães só poderiam requerer a cidadania suíça após terem residido por cinco anos ininterruptos na Suíça.

Em abril de 1939, Klee entra com um segundo pedido de naturalização que é imediatamente examinado pelas autoridades. De forma semelhante ao que ocorria na Alemanha nazista, o confronto entre a arte tradicional e a arte moderna havia se acirrado também na Suíça. A arte moderna era desqualificada por estar supostamente vinculada à política de esquerda.

Morte antes da naturalização
Um policial anônimo apresentou ao chefe de Polícia do cantão de Berna relatórios secretos que formavam um dossiê. Nesses relatórios, ele advertia das más influências que o trabalho de Klee exerceria sobre a arte nacional, taxava-a de produto de um doente mental e, finalmente, contestava uma profunda ligação de Klee com a Suíça.

Apesar do relatório policial, Klee recebeu a confirmação oficial de entrada do seu processo de naturalização. Finalmente, ele podia requerer direitos civis em Berna. Após algumas audiências, as autoridades municipais fixaram a data de 5 de julho de 1940 para a decisão final sobre a naturalização de Klee. Paul Klee morreu uma semana antes desta audiência, ficando o seu caso, por este motivo, fora da pauta.

A viúva de Klee, Lily, permaneceu em Berna como cidadã alemã e, na mesma cidade, administrava o espólio de seu esposo. Em setembro de 1946 ela foi vítima de uma doença grave. Seu filho e único herdeiro encontrava-se a caminho da Alemanha, fugindo de uma prisão russa.

Liquidação impedida
Com a morte de Lily, todas as propriedades da família Klee bem como todo o espólio artístico do pintor seriam transferidos para Felix. O Acordo de Washington, realizado pelos Aliados e que a Suíça acabara de assinar, exigia a liquidação de todos bens de alemães residentes na Suíça.

Para evitar a liquidação do espólio de Klee, os colecionadores bernenses, Hans Meyer-Benteli, Hermann Rupf, Rolf Bürgi e Werner Allenbach, amigos do casal Klee, adquiriram, no dia 20 de setembro de 1946, dois dias antes da morte de Lily Klee, todas as obras do espólio artístico de Paul Klee e transferiram a coleção para a Sociedade Klee. Um ano mais tarde, esta sociedade criou a Fundação Paul Klee e alojou toda a coleção no Museu de Arte de Berna.

Reunidas 52 anos mais tarde
Em 1948, Felix Klee mudou-se com a família para Berna e quis fazer valer os seus direitos de herdeiro universal de todo o espólio. No final de 1952, após quatro anos de brigas na Justiça, Felix e a Sociedade Klee fecharam um acordo extrajudicial. O espólio foi dividido, mas as duas coleções permaneceram em Berna.

Graças à iniciativa dos herdeiros de Felix Klee, da Fundação Paul Klee e das autoridades bernenses, estas duas coleções foram reunidas agora no Centro Paul Klee.
por Nicole Aeby

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Paul Klee e Bauhaus

Quando Paul Klee assumiu suas atividades como professor na Escola Bauhaus em Weimar, em janeiro de 1921, ele já era um renomado pintor da vanguarda artística da época. Sob o lema "Arte e Tecnologia - Uma nova Unidade", a escola pretendia, segundo a concepção de seu fundador, o arquiteto Walter Gropius, formar uma geração de artistas-artesãos.
Em um manifesto da Bauhaus, Gropius, que era simpatizante das idéias socialistas, escreveu que a escola iria "estabelecer uma corporação de artesãos sem a presunçosa divisão de classes, que tenta erigir um muro separando artesãos e artistas".

Seguindo a concepção de unir a formação artística à formação prática, os trabalhos nas oficinas da Bauhaus, nos primeiros anos da escola, eram coordenados conjuntamente por um artista plástico e por um mestre artesão.

Klee iniciou lecionando no ateliê de encadernação. Depois, assumiu a chefia da oficina de pintura em vidro e afrescos. Sua atividade como professor na Bauhaus obrigou-o a desenvolver e formular claramente as suas idéias sobre aspectos teóricos da pintura e da arte.

Anteriormente, ele havia desenvolvido suas reflexões teóricas a respeito da arte pricipalmente em seu diário e em cartas enviadas à sua esposa, a pianista Lily Stumpf, que viajava muito fazendo turnês.

Professor dedicado
Wolfgang Thöner, colaborador científico da Fundação Bauhaus, em Dessau, ressalta, em entrevista à swissinfo, que Klee era um professor muito dedicado. "Ele preparava suas aulas meticulosamente, até nos mínimos detalhes, como nenhum outro artista na Bauhaus fazia", diz Thöner.

A reação dos estudantes em relação ao professor Klee era muito variada. "A opinião dos especialistas em Klee é, porém, unânime em um aspecto: suas aulas constituíam um desafio intelectual de alto nível. Alguns de seus alunos não se adaptavam ao seu jeito. Muitos outros, entretanto, tiveram experiências valiosíssimas com Klee e aprenderam muito com ele", esclarece Thöner.

Outra característica típica de Klee era ressaltar constantemente que a sua maneira de abordar as questões não era a única possível. "Ele sempre revelava como tinha chegado a essa ou àquela solução. Ao contrário de alguns de seus colegas na Bauhaus, ele não era nada dogmático", acrescenta Thöner.

Sistemático
As teorias que Klee desenvolveu durante os anos em que trabalhou na Bauhaus eram, via de regra, claramente visíveis na sua obra. "Ele tinha um conceito de forma muito dinâmico e criava constantemente modelos que ele próprio acabava utilizando em suas composições quadradas", esclarece Thöner.

Há alguns indícios, porém, de que Klee nem sempre cumpria com suas obrigações de docente de maneira satisfatória. Tudo indica que às vezes ele faltava durante algum tempo às aulas, sem informar aos seus colegas ou alunos.

Seus colegas de Bauhaus constataram que, nestes períodos, era inútil insistir para que ele voltasse à escola. A postura de Klee fica clara na sua resposta a uma destas tentativas de fazê-lo retornar: "Em primeiro lugar e antes de mais nada, sou um artista na ativa."

Vida burguesa
Os anos passados em Dessau proporcionaram à família Klee uma vida confortável, com um ótimo salário, um emprego conceituado e uma casa ampla com um grande ateliê planejado pelo próprio Gropius. "Klee sempre quis levar uma vida burguesa, e o emprego em Dessau deu-lhe esta possibilidade por alguns anos", relata Thöner.

Klee tinha orgulho de seu título de professor catedrático na Bauhaus e dos privilégios de que gozava neste cargo. No final dos anos 20, quando a Bauhaus passou a ter dificuldades financeiras e Gropius lhe pediu que aceitasse uma redução de salário, Klee recusou. Ele era um dos mestres mais bem pagos da Bauhaus.

"É claro que era uma contradição: o incompreendido artista de vanguarda que fazia questão de gozar do reconhecimento burguês", acrescenta Thöner. Na sua opinião, Klee estava tão satisfeito em Dessau que, por ele, passaria o resto da vida lá.

Rachaduras e fendas
Mas esta confortável situação não duraria muito tempo. Tornava-se cada vez mais difícil para Klee conciliar seus ideais artísticos com a sua atuação na Bauhaus. Em 1928, Klee escreve à sua esposa Lily: "As exigências internas e internas são tão grandes que eu perco completamente a sensação de tempo. O peso na consciência me persegue."

Finalmente, Klee decidiu abandonar a Bauhaus. Em 1930, a Academia de Artes de Düsseldorf oferece-lhe um cargo que ele, um ano mais tarde, termina por aceitar. Sua família, que no início ainda permaneceu em Dessau, deveria juntar-se a ele em 1933. Mas os planos da família Klee foram abalados pelos acontecimentos históricos.

Em 1933, o nacional-socialismo assume o poder na Alemanha, e, para Klee, artista moderno, as perspectivas não são nada promissoras. Imediatamente após a troca do poder, a Academia recebe um novo diretor, explicitamente vinculado ao partido nazista alemão.

Poucos dias antes de sua família mudar-se para Düsseldorf, Klee é demitido da Academia de Artes sem aviso prévio. Depois de constatar que não tinha futuro na Alemanha nazista, a família Klee deixa o país em dezembro de 1933 e muda-se para a Suíça.


por Faryal Mirza

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Um romântico racional

No catálogo de sua primeira grande exposição individual, em 1914, Paul Klee define o seu estilo como "Romantismo frio". "Se Jean-Auguste-Dominique Ingres criou uma ordem na ausência de movimento, eu quero criar uma ordem no movimento, mas sem aquele páthos", escreveu Klee.

Para melhor descrever o Romantismo abstrato, ou frio, de Paul Klee, consideremos uma obra-chave do Romantismo alemão: "O viajante junto a um mar de neblina", de Caspar David Friedrich, 1818.

A composição dinâmica entre nuvens, penhasco e neblina em uma região montanhosa reflete a comoção do ser humano diante da criação e de sua ânsia pelo eterno. A relação mística bem como a profunda relação entre a natureza e o homem aparecem também constantemente nos trabalhos de Paul Klee. Não em forma de paisagem real, mas como uma composição de formas geométricas e de setas.

" A arte não reproduz o visível,
mas, sim, torna visível " Paul Klee


O jovem Klee explicava que tematizava a morte e a ânsia pela morte, não como uma desistência definitiva da vida, mas como uma tentativa de atingir a perfeição. Tal afirmativa é fortemente influenciada pelo espírito do Romantismo tardio.

Conhecendo a tradição
Embora Klee tenha crescido em um período impregnado pelo Romantismo tardio alemão, que era contra a tradição acadêmica baseada na antigüidade greco-romana, sua relação pessoal com as obras dos clássicos da Antigüidade desempenhou um papel fundamental na sua formação. Com 20 anos recém completos, Klee foi para Roma estudar as proporções da arquitetura clássica.

Números e proporções 'mágicos’, também presentes na natureza (por exemplo, nas folhas e líquens que Klee colecionava), não eram para ele símbolos de frieza e distanciamento, mas, sim, expressão da vida e material de contemplação artística.

Para Klee, a arte dos clássicos era "uma base importante que todos os artistas modernos deveriam conhecer e superar, a fim de criar o novo", esclarece o historiador da arte Michael Baumgartner.

Em sua obra gráfica, Paul Klee foi influenciado principalmente por Francisco de Goya e pelo Expressionismo de James Ensor e de Alfred Kubin. Entre 1908 e 1912, em exposições em Munique, ele travou os primeiros contatos com as obras de Vincent Van Gogh, Henri Matisse e Paul Cézanne. Sobre o último, ele dizia tratar-se de um verdadeiro mestre da profissão, maior do que Van Gogh.

Criatividade orgânica
Sabe-se que Klee só chegou à pintura depois de muitos estudos e de muitos anos de experimentos - mal ou bem-sucedidos - nesta área. Fundamentais para a sua trajetória foram os seus encontros com Robert Delaunay, o mestre das cores, e, naturalmente, com August Macke, Franz Marc e Wassily Kandinsky.

Os fundadores do grupo "Der blaue Reiter" - O Cavaleiro Azul - defendiam um ideário semelhante ao seu. Após uma fase de isolamento mais ou menos voluntário, Klee passou a trabalhar junto com outros artistas, o que promoveu um grande avanço no seu desenvolvimento.

Para Klee, como Kandinsky, o artista tinha de encontrar a fonte de inspiração em si próprio, na criança que dorme no âmago do próprio ser, na criatividade inconsciente e expontânea.

A influência de Klee sobre outros artistas
Klee não fundou um movimento artístico próprio, a exemplo do que fez Kandinsky. Mas, mesmo assim, pode-se afirmar com certeza que todos os pintores posteriores a Klee, mais cedo ou mais tarde, estudaram a sua obra.

Seus seguidores mais diretos foram Fritz Winter, Willy Baumeister, Max Bill e Otto Nebel. "Vários artistas minimalistas, como Sol Lewit, seguiram as suas pegadas. Suas idéias influenciavam mais do que o seu estilo. Andy Warhol, por exemplo, estudou intensivamente os seus escritos; mas não se pode dizer que o trabalho de Klee o tenha influenciado", explica Michael Baumgartner.

Eram sobretudo as suas idéias - como o significado espiritual da busca artística ou a paz meditativa e poética que ele via associada ao trabalho artístico e à contemplação da arte - que inspiravam estes artistas. "Os surrealistas consideravam Klee um dos seus. Picasso o admirava muito", complementa Baumgartner.

Picasso também defendia a opinião de que toda criança é um artista e que o artista deveria simplesmente esforçar-se a vida inteira para voltar a ser esta criança. Era o que Klee defendia. Entre as personalidades que muito influenciaram o trabalho de Klee encontra-se, entre outros, o seu próprio filho Felix.

Quando jovem, Klee era quem cuidava da casa e do filho, enquanto a sua esposa, que era pianista, fazia concertos e dava aulas de música no exterior. Até neste aspecto, Klee estava muito à frente do seu tempo.

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As cores dos olhos e da alma

Um dos elementos mais importantes na obra de Paul Klee é a cor. No início, ele lidava com as cores apenas sob uma perspectiva teórica. Mais tarde, porém, ele descobriu também a qualidade emocional das cores.

"A cor me possui [...] Eu e a cor somos um [...] Sou pintor", escreveu Klee em seu diário durante sua viagem à Tunísia. Essa viagem representou uma virada na sua obra.

Paul Klee dizia, a respeito das cores, em suas aulas na escola de Bauhaus, entre 1921 e 1922: "A diferença entre um tom vermelho e uma cor que não contém nada de vermelho é imensa. Por isso, não me interessa o que o tom vermelho contém. A mim interessa muito mais o que o vermelho não contém."

Uma determinada cor, na opinião de Klee, não é comparável a uma voz, mas, sim, a uma espécie de acorde de três vozes. Os pais de Klee eram músicos, ele próprio era um excelente violinista e, como se não bastasse, ele era casado com uma pianista. Não é, portanto, de admirar, que em seus ensaios teóricos e nas suas aulas falasse em polifonia das cores, acordeão de cores e partitura de cores.

A descoberta da cor
Nas poucas telas que Klee pintou no início de sua carreira artística, ele usou as cores com moderação. Suas aquarelas mostram que o valor do matiz de um tom em uma escala de cores o interessava mais do que o seu efeito psicológico.

"No início, Paul Klee trabalhava principalmente com as diversos matizes, especialmente de tons avermelhados. Tons de marrom e verde eram mais difusos. Isso só mudou depois que ele próprio declarou ter descoberto as cores ", esclarece o historiador da arte Michael Baumgartner.

Entre 1913 e 1914, Klee utiliza pela primeira vez cores intensas. "As cores primárias vermelho, amarelo e azul ganham em importância, assim como as cores contrastivas complementares, e isso dentro de toda a escala de cores," declarou Klee. Ele via um novo mundo, como tons menos cinzentos.

A intensa luz do Sul
Neste aspecto, Klee foi fortemente influenciado por Robert Delaunay, cujo artigo "La Lumière" - A Luz - ele traduziu em 1913. Um ano mais tarde, Klee viaja para a Tunísia e lá, sob a intensa luz do sul, ele descobre a força emocional das cores. Esta experiência foi muito marcante para ele.

Até então, Klee tinha trabalhado sempre com desenhos e gravuras. Quando pintava, fazia aquarelas. Depois desta viagem, porém, Klee absorveu as idéias de Delaunay, ampliou-as e transformou-as na sua própria linguagem visual, com características muito específicas.

O arco-íris, a forma mais abstrata da natureza

Sob a influência de Delaunay, Klee teve a idéia de trabalhar diretamente com o espectro de cores. Segundo Klee, o arco-íris está acima de tudo o que tem cor. "O arco-íris é emprego, elaboração e combinação abstrata de cores."

Curiosamente, a nova relação de Klee com as cores fez com que ele desenvolvesse mais as suas técnicas de pintura a óleo. Suas composições tornam-se mais abstratas, as linhas, mais livres. Os títulos das telas passaram a refletir, muitas vezes, experiências e vivências pessoais.

Surgem na sua arte conceitos como dinâmica do movimento
e relação entre a energia individual e a energia cósmica.

Alguns anos mais tarde, Klee desenvolve, a partir dessa base, uma teoria de romantismo que, em vez de se orientar pelo classicismo, se orienta pela liberdade de expressão.

Artista e pesquisador
Com suas descobertas sobre as cores e seus efeitos, Paul Klee enriqueceu a arte moderna não apenas como pintor, mas também como teórico.

"Ele reinterpretou a teoria de luz e cores de Robert Delaunay, transformando-a em uma pintura poética própria. Paralelamente a isso, realizou experimentos com o objetivo de ampliar a escala de combinação de cores, por exemplo de cores complementares contrastivas e de cores quentes e frias", explica-nos Baumgartner.

No trato com as cores, o artista Klee deixava-se guiar pela intuição e pelos sentimentos. Por outro lado, estruturava o seu dia metodicamente, o que, ao mesmo tempo, favorecia os seus minuciosos estudos teóricos.

por Raffaella Rossello

Tradução de Fabiana Macchi