Scanner detecta cocaína em vinho

Por Emily Wright
10.11.2010

A mais recente artimanha do narcotráfico foi desmascarada por cientistas que descobriram uma maneira de detectar cocaína em líquidos, sem precisar abrir a garrafa.
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Cientistas suíços mostraram que um scanner clínico pode ser usado não apenas para localizar tumores e cânceres no corpo humano, mas também para encontrar cocaína dissolvida em vinho ou outro líquido.
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Máquina de ressonância magnética (MRI) usada normalmente para scannear joelhos ou o cérebro, por exemplo, também é capaz de descobrir vestígios de cocaína em vinho usando uma técnica chamada espectroscopia por ressonância magnética.
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Giulio Gambarota lidera a equipe de pesquisadores das Universidades de Lausanne e Genebra: "Dá para “degustar” quantas garrafas de vinho quiser, sem abri-las. O conteúdo não é danificado e os traficantes nem suspeitam que foram analisados, podendo ser rastreados com mais facilidade", disse à swissinfo.ch.
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Tecnologia antiga
Um estudo recentemente publicado por Gambarota e sua equipe na revista "Drug Testing and Analysis” revela que métodos como a radiografia ou fluoroscopia - utilizados nos aeroportos - não podem identificar a substância específica que contamina o vinho, mas podem detectar substâncias estranhas no líquido.
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Em 2008, um estudo de radiológico demonstrou que a densidade do vinho varia conforme a quantidade de cocaína dissolvida nele.
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No entanto, densidades semelhantes também foram encontradas na bebida com outras substâncias dissolvidas, como o açúcar.
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Portanto, a técnica pode ser usada para ver se a carga foi contaminada, sem determinar a natureza do poluente. Os pesquisadores demonstraram que os scanners IMR podem identificar especificamente a cocaína no vinho ou em outro líquido, o que significa que não é necessário abrir a carga para controlar a natureza da substância estranha.
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Este método também é muito rápido, porque possibilita ver um grama de cocaína em um minuto.
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Artimanhas
Nos últimos anos tem havido vários casos de cocaína dissolvida em álcool.
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Em 2006, descobriu-se que em pouco mais de um ano entraram na Alemanha 100 quilos de cocaína em garrafas de rum importadas da República Dominicana.
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No ano passado, um britânico morreu após ter bebido uma garrafa de rum contaminado.
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A Secretaria Federal de Alfândega da Suíça informou à swissinfo que houve vários casos de contrabando de cocaína misturada em vinho. A porta-voz da Secretaria de Alfândega, Stefanie Widmer, ressalta que os scanners IMT ainda não foram instalados. "Usamos ferramentas técnicas e trabalhamos com cães altamente sensíveis para farejar o cheiro de maconha camuflada em líquidos."
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Gambarota lembra que mesmo que as autoridades comecem a usar scanners de ressonância magnética, não seria raro que os cartéis antecipassem o passo.
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"Apesar desse método, aparecem novos truques a cada dia, especialmente com a cocaína em pó, que pode ser contrabandeada em qualquer tipo de recipiente, estátuas, etc".
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A pesquisadora não sabe se as descobertas feitas pela sua equipe vai fazer alguma diferença no tráfico de drogas. "Alguns cartéis ganham bilhões de dólares e podem se oferecer com isso a ajuda de cientistas e da tecnologia", adverte.

Adaptação - Fernando Hirschy
swissinfo.ch