Megalaboratório de cannabis
para inglês ver

27.10. 2010
Foto – Megalaboratório em Pinhal Grande

Os britânicos apanhados no Algarve por tortura são donos de uma produção de cannabis. A Judiciária já lá está

"Entravam e saiam a várias horas, mas nunca percebi bem o que faziam", contava ao i Américo Balseiro, vizinho de um dos maiores laboratórios de cannabis da Europa desmantelado pela Polícia Judiciária (PJ) em Sarilhos Grandes, Montijo, muito perto de Pinhal Novo (foto).
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Ao que tudo indica John MacLean, detido no Algarve juntamente com três cidadãos ingleses, é um dos responsáveis pela propriedade onde se produzia grandes quantidades de um tipo de cannabis de alta qualidade - super skunk. As primeiras contas apontam para uma produção de vários quilos por mês e um valor de cerca de um milhão de libras (1,12 milhões de euros) em cada seis meses. Ou seja, por mês, o laboratório produzia cannabis no valor de quase 20 mil euros.
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A droga era escoada para o resto da Europa, designadamente para Inglaterra. É neste negócio que o escocês que ficou sem alguns dedos e uma orelha estaria envolvido. Fonte ligada ao processo disse ao i que James Ross vendia a droga produzida em Portugal acima do preço estipulado pela organização, alegadamente controlada por John MacLean. O remanescente ia parar aos bolsos de James Ross, razão pela qual a organização o terá chamado a Portugal já com planos para o matar. Os primeiros detalhes da investigação dão conta de que a Polícia Judiciária terá conseguido abortar o plano para matar James Ross, mas não terá evitado a tortura.
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Quinta no Montijo
Quando a PJ chegou à quinta onde se produzia cannabis com ajuda do método hidropónico - complexos sistemas de luzes, condicionadores de ar e irrigação que funcionam dia e noite - já não estava lá ninguém. Os ingleses já tinham sido presos e mesmo um cidadão brasileiro que tomava conta de alguns animais, como um pónei, também tinha desaparecido. Alguns vizinhos contaram ao i que iam vendo gente a entrar e a sair e ainda alguns furgões. Ao que parece com matrícula inglesa, uma vez que os moradores da zona garantiram que os veículos tinham o volante "ao contrário".

Um dos vizinhos contou que frequentemente via uma ou duas mulheres e algumas crianças pequenas, mas adiantou que "nunca incomodaram ninguém". Estranharam foi uma barreira construída junto ao edifício que albergava o laboratório que servia, viriam a perceber, para não se ver o trajecto entre a casa e os carros. Outra questão que consideraram pouco comum foi o facto do portão da quinta estar permanentemente encerrado: "Mesmo só por minutos, fechavam sempre o portão com correntes", garantiram.
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A quinta tem várias casas pequenas e alguns anexos. Num destes edifícios, um vizinho reparou que "às vezes saía um fumo muito negro". Nunca perceberam bem como aquelas pessoas ganhavam a vida nem se arrendaram ou compraram a quinta. No café da redondeza comentava-se que o proprietário reside em Penamacor e chegou a alugar o espaço a uma empresa de gesso (Beiragessos) e, posteriormente, terá arrendado aos ingleses.
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Há um ano Américo Balseiro, que mora mesmo em frente ao portão da quinta, recorda-se da vinda dos ingleses "há cerca de um ano", mas nunca estabeleceu muita comunicação "até porque não entende a língua deles". Um dos pormenores que se recorda é que "a luz ia frequentemente abaixo". Para a voltarem a ligar necessitavam de sair da quinta e passar junto a sua casa, pelo que várias vezes percebeu o que se passava. Uma vez, recordou, "fizeram uma puxada directa do quadro da electricidade e fizeram passar um cabo por cima da estrada". Cabo esse que ainda está no local.
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Todavia, os ingleses primavam pela discrição o que não terá levantado suspeitas, com excepção de uma vizinha, que chegou a deslocar-se à PJ de Setúbal, em Março, quando algumas notícias sobre a presença de bases da ETA em Portugal vieram a lume.
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RELATORIO OEDT

Cultivo de cannabis cresce na Europa e atrai criminalidade

por Agência Lusa
10.11.2010
O cultivo de cannabis em larga escala na Europa está a crescer e a atrair grupos do crime organizado que procuram controlar o mercado da droga que cerca de 75,5 milhões de europeus já experimentaram.

Esta é uma das conclusões do relatório anual do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), apresentado hoje em Lisboa.
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Segundo o diretor do OEDT, Wolfgang Götz, "os grupos da criminalidade organizada despertaram para os lucros que se podem obter do cultivo em larga escala de cannabis perto do mercado de destino", o que significa um "crescente nível de violência e criminalidade nas comunidades urbanas".
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A ideia do cultivo num "vaso colocado no parapeito da janela" ou de "umas quantas plantas na estufa do jardim" é muito diferente da realidade atual, frisa Wolfgang Götz, com o relatório a destacar que aumentaram as apreensões de plantas de cannabis - 19 mil em 2008.
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A par disso, o consumo "parece estar a crescer em alguns países da Europa Oriental", rivalizando ou mesmo ultrapassando os níveis de consumo nos países mais ocidentais, refere o relatório.
Com índices de consumo próximos dos 30 por cento entre os jovens com 15-34 anos, a República Checa exemplifica bem esta tendência.
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Embora se confirme no relatório deste ano a tendência verificada em anos anteriores para uma estabilização ou diminuição do consumo na Europa em geral, quatro países destoam: República Checa, Itália, Estónia e Eslováquia, onde há uma tendência para o aumento.
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Um em cada cinco europeus dos 15 aos 64 anos já consumiu cannabis e no último ano estima-se que 23 milhões o tenham feito, quatro milhões dos quais com utilização diária.
Aliás, cerca de um quinto dos consumidores de drogas que procurou tratamento para as toxicodependências menciona o cannabis como a principal causa dos seus problemas, indica o relatório.
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No que toca às apreensões, a média anual na Europa é de cerca de mil toneladas, 90 por cento das quais de resina de cannabis.
Em 2008 foram apreendidas 92 toneladas de cannabis herbáceo - em forma de planta - e 900 toneladas de resina. Portugal registou nesse ano um número recorde de apreensões de resina de cannabis, com 61 toneladas.
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