FACEBOOK

Atrás de uma grande rede social
está sempre uma grande mulher

"A Rede Social", filme que acusa Mark Zuckerberg de roubar a ideia do Facebook, estreia amanhã. Sheryl Sandberg já deu o corpo às balas para defender o chefe. Conheça a melhor e mais valiosa amiga do fundador do site

Todas as segundas-feiras, por volta das 10 da manhã, Sheryl Sandberg, directora operacional do Facebook, envia um e-mail ao seu patrão, Mark Zuckerberg. "Temos uma rotina", diz Sandberg. "Eu escrevo um e-mail a perguntar ''estás a chegar?'' e ele responde ''estou a caminho''.
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Poucos minutos depois, Zuckerberg, co-fundador do Facebook, entra na sede da empresa em Palo Alto, Califórnia, diz alguns olás e dirige-se para a sala de reuniões, onde fala com Sandberg durante uma hora. A semana termina da mesma forma: com uma reunião entre os dois à porta fechada, sexta-feira à tarde. Discutem sobre produtos, estratégias, negócios, pessoal - e sobre eles próprios.
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"Acordámos em dar feedback um ao outro todas as sextas-feiras", conta Sandberg. "Estamos constantemente a chamar a atenção um ao outro para determinadas coisas. Mas nunca nos zangamos."
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Sandberg, uma conceituada executiva da área da Internet, é tão conhecida pelos seus dotes pessoais como pelo seu intelecto brilhante. E as suas reuniões regulares com o introvertido Zuckerberg contribuíram para que uma das parcerias mais invulgares de Silicon Valley fizesse maravilhas pelo Facebook.
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De facto, por uma variedade de razões, Sandberg pode ter-se tornado na amiga mais valiosa de Zuckerberg.
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Desde que Sandberg chegou, há mais de dois anos, o Facebook navegou com sucesso através de um das fases mais perigosos na vida de uma empresa recém-estabelecida: o período de hiper-crescimento. A força de trabalho do Facebook expandiu-se seis vezes, para quase 1800 pessoas, e a sua audiência global multiplicou-se para 500 milhões utilizadores. As receitas deverão ultrapassar os mil milhões de euros este ano.
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Parte da razão para o crescimento das vendas é a ligação estreita que Sandberg tem com muitos dos maiores anunciantes do mundo, relações que ela começou a desenvolver quando era executiva de topo no Google. Sandberg trouxe também estabilidade ao Facebook, que viveu um período tumultuoso quando vários executivos e funcionários antigos saíram, incluindo co-fundadores da empresa.
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Uma das razões pelas quais a empresa está a sair-se tão bem é porque eles se dão tão bem", considera Mike Schroepfer, vice-presidente do Facebook.
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Sandberg concentrou-se na construção do negócio, na expansão internacional, em cultivar as relações com os grandes anunciantes e em dar o seu toque pessoal na comunicação e política pública. Isso libertou Zuckerberg para se focar no que ele mais gosta: o site do Facebook e a sua plataforma.
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O filme
Por estes dias, Sandberg assumiu também outra tarefa: armar a defesa de Zuckerberg numa altura em que o filme "A Rede Social" o retrata como um estudante reservado e calculista que poderá ter roubado a outros a ideia para o Facebook. Sandberg reage: "Ele é tímido e introvertido e, muitas vezes, não é afectuoso para as pessoas que não o conhecem, mas ele é afectuoso", diz Sandberg sobre Zuckerberg. "Ele preocupa-se a sério com as pessoas que aqui trabalham."
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Sandberg protege sempre o seu menino. Numa conferência sobre tecnologia este Verão, por exemplo, Zuckerberg perdeu as estribeiras durante uma entrevista em palco. Deu respostas incoerentes a perguntas sobre a política de privacidade do Facebook, ficou visivelmente nervoso e começou a suar profusamente. Depois da entrevista, Sandberg encorajou-o a não se massacrar por causa disso, antes para se focar nas partes da entrevista que correram bem para que pudesse fazer melhor da próxima vez. "Ela quer mesmo que ele tenha êxito", diz uma pessoa que não se quis identificar.
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Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg podem muito bem ser o casal mais estranho de Silicon Valley. Zuckerberg, um engenheiro informático e visionário de 26 anos, é socialmente reservado e desajeitado. Aos 41 anos, Sandberg é o oposto: refinada, atraente, conversadora e à vontade quando é o centro das atenções.
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As diferenças não acabam aqui. Zuckerberg desistiu de Harvard depois do segundo ano para se dedicar ao Facebook e nunca trabalhou noutro sítio. Sandberg, que tem uma MBA em Harvard, é uma veterana do Google, onde teve um papel central na construção do maior e mais bem sucedido negócio de publicidade na Internet. Quando saiu do Google, o seu departamento crescera de uma mão cheia de pessoas para cerca de 4 000 funcionários e era responsável por mais de metade das receitas da empresa.
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Antes de ir para Silicon Valley em 2001, Sandberg licenciou-se em Economia, a seguir fez o MBA e depois trabalhou no Banco Mundial, na McKinsey & Company e foi chefe de gabinete de Lawrence H. Summers quando este era secretario do Tesouro da administração Clinton.
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Apesar das sua diferenças óbvias - ou talvez por causa delas - Zuckerberg e Sandberg tornaram-se íntimos. "Muita gente prefere contratar pessoas que se parecem exactamente como eles", afirma Zuckerberg. "Aqui valorizamos muito mais o equilíbrio. É preciso muito trabalho para construir tais relações mas, se resultam, acabamos por ficar com um sistema muito melhor."
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Zuckerberg conheceu Sandberg numa festa de Natal em 2007 e gostaram imediatamente um do outro. O que se seguiu foi intenso, uma corte empresarial de seis semanas, durante as quais jantaram várias vezes. Sendo ambos celebridades de Silicon Valley, comiam normalmente em casa de Sandberg de modo a manterem as suas conversas confidenciais. "Fomos metódicos e cuidadosos", diz Sandberg.
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Zuckerberg, sempre o "nerd" tecnológico, descreve esta relação como sendo de "banda larga". "Somos capazes de falar durante 30 segundos e essa conversa ter mais significado do que muitas reuniões de uma hora", diz.
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A aceitação de Sandberg no Facebook não foi imediata. Quando foi contratada, uma atmosfera de residência universitária dominava a empresa e especulava-se que ela chegara para limpar a casa. .
Ainda hoje Sandberg parece um pouco deslocada no Facebook. Senta-se num grupo de secretárias que inclui a de Zuckerberg, bem como outros engenheiros e executivos. A tendência deles para os jeans, T-shirts e camisolas com capuz contrasta com o gosto dela por roupas elegantes. Os seus esforços para conquistar as tropas do Facebook começaram logo no primeiro dia. Foi de mesa em mesa para se apresentar, fez piadas e colocou perguntas. Teve o efeito desejado.
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A ligação de Sandberg com Zuckerberg é profunda. Os dois socializam frequentemente e Zuckerberg, que foi capitão da equipa de esgrima no liceu, já ensinou a modalidade ao filho de cinco anos de Sandberg. Quando Zuckerberg e Priscilla Chan, a sua namorada desde há muito, começaram a falar de filantropia, viraram-se para Sandberg. Ela abordou imediatamente a sua vasta rede de contactos e organizou reuniões com pessoas como o Michael R. Bloomberg, o mayor de Nova Iorque, e Michelle A. Rhee, a responsável pelas escolas de Washington, D.C.
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Sandberg "ajudou-me a navegar pela política e a perceber onde podia obter maior margem de manobra", diz Zuckerberg. "Tendo sido ela a pessoa para quem Priscilla e eu nos virámos é um símbolo forte da nossa relação."
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