O movimento colectivo que explodirá
quando Berlusconi se retirar

Nos países em que, como em Itália, não há eleições obrigatórias para o líder ou a classe política, o sistema entra periodicamente numa crise de que só sai em resultado de movimentos colectivos

por Francesco Alberoni *
23.11.2010

As democracias anglo-saxónicas têm vários séculos porque são modeladas pelo grande ciclo colectivo. Este começa com um movimento de grupo em que as pessoas, animadas de ideais e de entusiasmo, se reúnem em torno de um líder carismático, que conduz ao poder uma nova classe política. Esta instala-se, enraíza-se, reforça-se e depois, pouco a pouco, vai-se tornando rígida.
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Entretanto, a sociedade modifica-se, as gerações mudam, e com elas as tecnologias, os problemas, os hábitos, as necessidades e os gostos. E a classe política, anquilosada, não responde a todas estas mudanças. Crescem o mal-estar e a insegurança, até que explode um novo movimento colectivo que leva ao poder outro caudilho e outra classe política. E assim recomeça o ciclo..Os americanos inventaram um mecanismo eleitoral em que de quatro em quatro anos (além das eleições intercalares) podem renovar-se tanto o presidente como a classe política. Isto torna os movimentos colectivos mais raros e menos violentos. São as eleições que produzem a renovação..Pelo contrário, nos países onde, como em Itália, não há eleições obrigatórias para o líder e a classe política, o sistema político entra periodicamente em crise e apenas os movimentos colectivos têm a capacidade de fazer emergir outros novos.
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Desde a queda do Muro de Berlim (em 89), a classe política formada pela democracia-cristã, com o Partido Socialista, O Partido Social-Democrático, o Partido Republicano Italiano e o Partido Liberal foi aniquilada e em seu lugar explodiram vários movimentos, incluindo a Força Itália e a Liga Norte, que deram uma orientação bipolar à Segunda República.
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No entanto, esta continua constitucionalmente parlamentar: são os deputados e os senadores, e não os cidadãos, a eleger o governo. Um político derrotado não fica quatro anos à espera de voltar para o poder, tenta voltar logo. É por isso que estamos permanentemente em campana eleitoral. À direita, a liga que produziu uma classe política jovem continua forte. No conjunto do país deu-se a secessão da União do Centro e depois a de Fini. A União do Centro continua a ter muitos seguidores e por enquanto não são visíveis movimentos cuja explosão seja inexorável no momento em que Berlusconi se retirar.* Francesco Alberoni é jornalista e sociólogo.
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