SUÉCIA

O paraíso dos holandeses

Petra Sjouwerman, Amsterdam
01.03.2011

Todos os dias, 305 holandeses partem para ir viver no estrangeiro. A Suécia inclui-se entre os destinos favoritos, onde encontram calma e uma vida próxima da natureza. 


Em 2007, Ellen Mulderij, originária da Frísia, emigrou para a Suécia com a família. "Na Holanda, toda a gente tem pressa. Voltei lá recentemente e disse para comigo: 'Será que estas pessoas alguma vez têm algum tempo para viver?'", diz, na sua casa em Hjulsjö, uma aldeia sueca quase deserta. Rudy, o seu marido holandês, trabalha na silvicultura; os três filhos andam na escola. Reina uma grande calma, nesta região arborizada. A maior parte dos que ali nasceram partiu há muito, em busca de trabalho.

Na Suécia, vivem cerca de 8300 emigrantes holandeses – sem contar aqueles que ali residem provisoriamente – e esse número tende a aumentar. Desde o ano 2000, um milhar de holandeses vieram instalar-se na sua nova pátria escandinava.

"O número de holandeses que veem para a Suécia aumentou claramente depois do 11 de setembro de 2001", afirma Rob Floris, da agência para o emprego de Kalmar. "Os problemas relacionados com Pim Fortuyn [político populista assassinado em 2002], depois com Theo van Gogh [animador de televisão e cineasta assassinado em 2004] e, agora, com Geert Wilders [político populista islamófobo] contribuíram para isso. Sempre que Wilders é tema de notícia, recebo pedidos de holandeses que querem emigrar."

Floris é conselheiro da EURES, a rede de cooperação da UE que favorece a mobilidade de emprego entre os Estados-membros. Segundo ele, muitos holandeses são atraídos pela estabilidade política existente na Suécia. "Eu digo-lhes que é preciso tirar os óculos cor-de-rosa", sublinha, numa alusão ao assassinato da ministra Anna Lindh, em 2003.

Uma economia sólida
Ainda assim, a Suécia é onze vezes maior do que a Holanda e tem apenas 9,2 milhões de habitantes [a Holanda tem 16 milhões], dos quais três milhões vivem em Estocolmo e arredores. "O stresse é mínimo e, fora de Estocolmo, não há engarrafamentos, a criminalidade é mais baixa do que na Holanda e as pessoas respeitam-se umas às outras", acrescenta Floris.

Os holandeses são atraídos sobretudo pela calma, pelo espaço e pela natureza. Nas entrevistas com os holandeses que vivem na Suécia, essas palavras são recorrentes. Além disso, a vida na Suécia é mais barata do que na Holanda. "Por 100 mil euros, arranja-se uma grande moradia com um hectare de terreno", reconhece Floris. Os encargos mensais, os seguros de habitação e automóveis e os combustíveis são mais baratos. Não é preciso fazer seguros de saúde, porque os residentes na Suécia estão automaticamente seguros através dos impostos.

Por outro lado, como salientou recentemente o secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), a economia sueca é "tão sólida como a Fifi Brindacier" [Pipi das Meias Altas]. O país saiu incólume da crise financeira e tem centenas de vagas de emprego no setor das tecnologias da informação e comunicação e no setor da saúde. "Os holandeses vêm com toda a família, aprendem rapidamente a língua e têm um espírito positivo em relação ao trabalho. Também são empreendedores. A mentalidade da Companhia Holandesa das Índias Orientais está nos seus genes", observa Floris.

"A Suécia é o país que lhe convém"
Ellen Mulderij também tem esse espírito empresarial. Deu alguma vida à aldeia de Hjulsjö, onde não vivem mais de 50 pessoas, com a sua loja de produtos biológicos, que funciona igualmente como café. A casa da família ainda está praticamente em ruínas. "Nada funciona. Está de facto num estado lamentável." Mas também já meteu mãos à obra. "É uma tarefa difícil", reconhece Ellen Mulderij, que recebeu subsídios da UE para instalar a loja e criar carneiros.

A maior parte dos holandeses instala-se nas províncias de Värmland e de Dalarna [no sul da Suécia], magníficas regiões acidentadas e arborizadas descobertas durante as férias. "Mas, no campo, não há muitos empregos", adverte Floris. "Muitas pessoas querem abrir casas de hóspedes mas estas só funcionam oito semanas por ano, o que não basta para ganhar a vida."

Segundo Rob Floris, as pessoas precisam de pensar muito bem antes de decidirem emigrar. "Antes de partirem, as pessoas não devem contentar-se em ter vindo à Suécia no verão. É preciso vir noutras estações. Irá gostar tanto do país, quando é de noite às três horas da tarde, no inverno, e quando é preciso abrir caminho porque caiu um metro de neve durante a noite? Se assim for, então a Suécia é realmente o país que lhe convém."

Presseurop