ESTÉTICA

Beleza barata, rápida e por vezes mortal: os perigos do silicone

The New York Times
22.05.2009
As autoridades americanas estão cada vez mais atentas às injecções de silicone que substituem cirurgias plásticas e podem matar.

Como quase todas as mulheres, Fiordaliza Pichardo só queria ser bela e por isso começou há alguns anos a levar injecções de silicone para lhe arredondar as ancas e as nádegas.

Não suspeitava que haveria de pagar um preço altíssimo pela aparência. Em março, um dia depois de levar uma injecção, Fiordaliza Pichardo, de 43 anos, morreu de embolia pulmonar induzida por silicone.

O departamento de saúde de Nova Iorque teme que esteja a aumentar o uso ilegal de silicone como alternativa à cirurgia plástica. O centro de controlo de venenos da cidade recebeu, nos últimos dez meses, três chamadas de médicos que tinham tratado pacientes injectadas com silicone. Nos dois anos anteriores, tinha havido apenas dois casos semelhantes.

Os responsáveis do departamento de saúde disseram que pode haver casos não registados, uma vez que os médicos não estão obrigados por lei a comunicar envenenamentos por silicone. O departamento está a planear enviar uma nota a milhares de médicos, avisando-os de que devem estar atentos a estes casos.

Nos Estados Unidos, a nível nacional, têm surgido notícias sobre intervenções para realce das ancas, desde o Nordeste até Miami, e a Food and Drug Administration (FDA, organismo que regulamenta medicamentos e alimentos) planeia também emitir um aviso sobre os perigos de tais práticas, segundo o porta-voz Siobhan DeLancey.

"Tudo indica tratar-se de um movimento semiclandestino, pelo que é difícil obter números", diz DeLancey. Disse ainda que a FDA iria encorajar as vítimas a manifestarem-se. "Para podermos documentar o problema", explica.

Sem ressentimentos
As vítimas têm-se visto enredadas numa indústria clandestina da beleza, onde se recorre a injecções do mercado negro como forma barata, rápida e de fácil acesso de insuflar mamas e alisar rugas. As injecções são muito populares entre latino-americanas e transsexuais, que possivelmente não podem pagar cirurgias plásticas convencionais.

Em 2007, Suhail Raoof, chefe de Medicina Pulmonar do Hospital Metodista de Nova Iorque, tratou uma mulher que sofria de envenenamento por silicone. Tinha-se apresentado queixando-se de falta de ar e disse aos médicos que tinha sido injectada com cerca de 500 ml de silicone em cada nádega cerca de meia hora antes.

Como o silicone não é visível em radiografias nem em tomografias, diz Raoof, é difícil chegar a um diagnóstico sem uma biopsia. Foi por dedução que os médicos diagnosticaram a causa dos sintomas
da mulher, que sobreviveu. Fiordaliza Pichardo não teve a mesma sorte. A filha, Marines Rodríguez, de 19 anos, diz que a mãe começou a levar injecções de silicone há vários anos, depois de uma amiga lhe ter apresentado uma esteticista. Fiordaliza Pichardo acabou por confiar na mulher. "Via-a como uma amiga; nada podia correr mal", refere Marines Rodríguez.

Fiordaliza Pichardo levou a última injecção a 17 de março e morreu no dia seguinte. Os médicos pensaram que ela tinha pneumonia e à família nem ocorreu falar nas injecções de silicone, que só a autópsia revelou.

O examinador médico considerou a sua morte um homicídio por ter sido injectada por alguém sem licença, mas Marines Rodríguez disse que a família não via razões para estar zangada. No dia após a morte da mãe, conta, a esteticista visitou a família para apresentar as suas condolências. "Não achamos que ela tenha feito de propósito", conclui.
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