CONSUMO

Portugal é recordista na abertura de centros comerciais

por Agência Lusa
26.03.2010

A abertura de novos centros comerciais na Europa registou em 2009 a maior queda dos últimos 15 anos, mas Portugal contrariou esta tendência ao atingir o máximo histórico de área inaugurada, segundo a consultora Cushman & Wakefield.

"O forte ritmo de crescimento da oferta de centros comerciais não foi interrompido" em 2009 em Portugal, lê-se no estudo "European Shopping Centre Development", que refere terem sido inaugurados 280 mil metros quadrados de novos espaços comerciais no país, distribuídos por nove projetos, dos quais três de expansão ou remodelação de centros já existentes.

A consultora defende que o atual enquadramento económico condicionou o crescimento potencial da oferta em Portugal, tendo-se assistido a uma redução substancial do número de centros comerciais previstos até 2011. "Atualmente, os centros comerciais em construção somam pouco mais de 200 mil metros quadrados, muito aquém dos valores registados no passado, fruto do constante adiamento de novos projetos a que se tem assistido", acrescenta.

Para 2010 a consultora espera ainda novos cancelamentos e/ou adiamentos de projetos ainda em fase de conceção, mas também uma retoma tímida da procura. Os números colocam Portugal no topo da resistência à queda em termos de área dos novos centros comerciais, apesar de seis das dez unidades projetadas para este ano não tenham sido inauguradas no ano passado.

No resto da Europa, a promoção de novos centros comerciais abrandou em 2009 para os cerca de 7,4 milhões de metros quadrados, uma descida de 19 por cento comparativamente com 2008 e a maior dos ultimos 15 anos.

Na Europa Ocidental, a Itália, França e Espanha foram os mercados mais ativos na promoção de novos centros comerciais em 2009. "Em 2010 deverá manter-se a tendência descendente com a abertura de apenas 6,1 milhões de metros quadrados, prevendo-se que o ano de 2011 registe o nível mais baixo dos últimos 7 anos, com pouco mais de 5 milhões de metros quadrados a serem concluídos, correspondendo a uma descida de 46%, comparando com o ano recorde de 2008", conclui a consultora.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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Colombo by night. À noite, o gigante
não dorme, descansa os olhos

por Nuno Aguiar
02.08.2010

Criado há 13 anos, o centro comercial não pára depois de o Sol se pôr


É 1h15. Pelos corredores agora escuros do centro comercial Colombo, a melodia do último êxito da Lady Gaga, salta por cima do barulho das máquinas de encerar o chão, vinda de um pequeno rádio pendurado pelos trabalhadores nocturnos. O maior centro comercial da Península Ibérica é um gigante com insónias.

Mesmo quando o barulho das 75 mil pessoas que o visitam diariamente desaparece, não é o silêncio que enche os corredores. “Não se pode esquecer que isto é uma cidade que nunca pára”, diz com orgulho António Bettencourt, director do Colombo. Com mais trabalhadores nocturnos do que muitas aldeias têm habitantes, a vida noctívaga deste gigante começa horas antes. Todas as noites, quando o relógio marca as 23h50, é dado o aviso de fecho do centro comercial. A ordem vem da central de segurança.

Numa sala com pouco mais de 12 metros quadrados, onde nenhum jornalista tinha até agora entrado, um segurança e um funcionário do staff do Colombo observam com atenção uma parede de monitores que mostra todo o interior e exterior do centro. É neste espaço, em que cada apontamento e fotografia tem de ser autorizado pelo director, que é dado o tiro de partida de todo o processo de preparação do Colombo para um novo dia.

A saída da central de segurança é feita por monocromáticos labirintos brancos, por onde António Bettencourt se orienta quase de olhos fechados. Há 14 anos a trabalhar aqui, os últimos oito como director, é discutível se os corredores do Colombo são a primeira ou a segunda casa de Bettencourt. “Gosto de ver e de estar em cima do assunto. Todos os dias dou uma volta pelo Colombo. Se me basear apenas no que me dizem, a coisa não vai funcionar”, explica, enquanto algumas funcionárias o vão cumprimentando na zona dos restaurantes.

É aqui que arranca a limpeza, com algumas das 150 trabalhadoras de limpeza do Colombo a levantarem as 1400 cadeiras pretas dos restaurantes. “Isto é mais bonito de noite que de dia...”, vai murmurando entre dentes o “sr. Bettencourt”, como lhe chamam os trabalhadores do Colombo. Já com os restaurantes com as grades para baixo é nesta zona que ironicamente o director do centro não consegue arranjar uma única garrafa de água para matar a sede de uma noite quente de Verão.

É noutras noites como esta que António Bettencourt não consegue por vezes resistir a uma visita tardia ao Colombo. “Venho cá muitas vezes à noite. Às vezes até às duas da manhã. Posso ir a um jantar qualquer e passo aqui no final.” E, 14 anos depois, nunca se torna aborrecido? “Nunca. Há sempre novas exigências de excelência: novas lojas, nova decoração, mandar encerar melhor o chão, as plantas terem mais 10 centímetros, etc.”

A preparação de um novo dia é feita com a lógica táctica do ataque de um exército. Às 00h45 são apagadas as luzes de todo o centro comercial e 15 minutos depois os seguranças iniciam a ronda para verificar se as portas das 400 lojas estão correctamente fechadas. Pelas duas da manhã, avançam as tropas das reparações. No primeiro andar, três homens vão arranjando os secadores de mãos de uma das 48 casas de banho do Colombo sob a supervisão atenta do “sr. Bettencourt”.

Meia hora antes tinha começado o trabalho de manutenção das 5 mil plantas. É já pela madrugada dentro, perto das 4h00, que as cargas e descargas aceleram no exterior do centro comercial. Quinhentas viaturas entram e saem todos os dias do Colombo, um gigantesco trabalho de abastecimento que é feito, em grande parte, no submundo do centro comercial: uma rampa de 680 metros que atravessa o Colombo, por baixo, de uma ponta à outra. À saída da rampa, os primeiros raios de sol rompem o cinzento e negro da rampa, dando o primeiro aviso de que falta pouco tempo para a reabertura.

A pouco minutos das 9h00, meia centena de pessoas concentram-se à entrada, imitando a abertura de um casino. Os corredores agora iluminados estão mais silenciosos do que alguma vez estiveram durante a noite. Às nove horas em ponto destrancam-se as portas e, no espaço de segundos, os corredores e as escadas rolantes enchem-se de gente. O gigante voltou a abrir os olhos.
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