PORTUGAL


Em Portugal, Lula é o presidente "do povo". E Dilma Rousseff? Quem é?

por Cláudia Garcia
01.10. 2010
Foto - Brasileira em Lisboa
As opiniões entre os brasileiros ouvidos pelo i dividem-se entre Lula e Serra. Mas Dilma deve vencer



A comunidade brasileira é a maior comunidade de imigrantes em Portugal. Hoje vivem cerca de cem mil brasileiros no país, que formam a segunda maior comunidade brasileira num país estrangeiro a ir às urnas no domingo. Serão mais
de 23 mil eleitores brasileiros a votar em Portugal.


A relação de proximidade entre os dois países tem um saldo positivo para ambos. Os empresários portugueses continuam a piscar o olho às possibilidades de negócio em terras de Vera Cruz. E o recente negócio entre a Portugal Telecom e a operadora brasileira Oi é apenas um exemplo. "A marcha de interacção e imigração entre os dois países é um dado inexorável." A frase é do embaixador do Brasil em Portugal, Celso Marcos de Sousa, e é uma descrição subtil da relação diplomática entre os dois "irmãos".

A dois dias das eleições que marcam a saída do presidente que "melhor vendeu a imagem do Brasil no exterior" - segundo o embaixador -, o i foi conhecer as histórias de alguns brasileiros que vivem em Lisboa. Mas, ao contrário do que acontece no Brasil, em que as intenções de voto disparam na direcção de Dilma Rousseff, com 47% das intenções de voto, as preferências entre os eleitores ouvidos pelo i dividem-se entre o Partido dos Trabalhadores, de Lula (e de Dilma), e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) de José Serra que conta com 28% das intenções de voto.

"Olháá a cocada e coxinha brasileira", grita Edna Santos directamente da Praça de Camões na Baixa lisboeta. "É memo do Brasil?", pergunta uma senhora do outro lado da estrada. "É do Brasiu memo minha filha". A vendedora de 44 anos vai votar no PT e deixa um aviso: "O Serra não vai ganhar, só dá Dilma Rousseff minha filha." Nem o escândalo de desvio de fundos da Casa Civil brasileira que resultou no despedimento da ex-ministra Erenice Guerra arrefece os pró-PT. "É tudo verdade, no Brasil todos querem roubar, mas ele foi o único presidente que conseguiu pagar a dívida externa e o povo tem mesmo memória curta."

A simpatia de Edna pelo actual presidente não é consensual. "Lula conseguiu um abono de família de 35 reais (cerca de 15 euros ), dá cesta básica a todo mundo, mais bolsa de família. Ele ajuda o povo e é só por isso que o povo gosta dele", comenta Ivana Marques, proprietária do bar Bica Baixo. Ivana votou no PT em 2002. No domingo não vai poder votar, porque não pediu a transferência do título de eleitor, mas se votasse "seria em José Serra". Apesar da simpatia pelo candidato do PSDB, não esquece "o esforço de Lula" para melhorar a situação dos imigrantes em Portugal. O marido, Gildo Santana, com quem divide a sociedade do bar, é categórico: "Eu nunca votei no Lula." Domingo não seria Lula, mas sim Dilma Rousseff, que tantas vezes é asfixiada pelo nome do ainda presidente, que continua na cabeça dos brasileiros como representante oficial do PT. A convicção do casal de Salvador é que Dilma será mesmo a próxima presidente da República e vai tentar manter as políticas do PT. "Bolsa para tudo e mais alguma coisa", ironiza Gildo Santana.

O "fantasma" Lula pode regressar já em 2014, apresentando a sua recandidatura oficial ao Planalto. Lula da Silva não comenta ainda essa possibilidade, mas muitos brasileiros já sonham com esse dia. Outros preferem nem pensar. É o caso de Lucimara Soutello de 33 anos, que vai regressar ao Brasil assim que terminar a licenciatura na Faculdade de Motricidade Humana. "Há três meses estive no Brasil. Fiquei com a sensação que quem é rico está cada vez mais rico e quem é pobre está cada vez mais pobre." Para Lucimara a promessa eleitoral de Lula, de acabar com a pobreza do Brasil, está a ser varrida para debaixo do tapete: "A maioria dos brasileiros vai votar no PT, porque vai beneficiar com as ajudas do governo", diz. "O povo brasileiro prefere acomodar-se nas ajudas do governo do que lutar por uma situação melhor", continua.



E, apesar de nunca ter votado no PT, a estudante acredita que as hipóteses de José Serra vencer são pouco reais. Entre os milhares de brasileiros que vão no domingo ajudar a eleger o novo presidente, na Faculdade de Direito de Lisboa, ainda há espaço para indecisos. Alina Pereira ainda não escolheu o candidato. "Estou na dúvida entre Marina e Dilma. Serra sai fora." A manicure de 31 anos só tem uma certeza, ainda que faça a afirmação com tom irónico: "Se pudesse votar num deputado federal seria no Tiririca", o palhaço de profissão que se arrisca a ser o candidato a deputado federal mais votado.
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